O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em
campo, logo após ter sido tirada a foto
ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas.
O começo do crepúsculo em Passagem
Luiz Sávio de Almeida
Passagem é minha velha conhecida; mas, quando menino, sempre a vi de longe. Via as lanchas sairem e voltarem, mas nunca atravessei o rio. Houve uma época que meus pais íam muito. Faltava luz em Penedo e eles pegavam a lancha pra irem ao cinema do outro lado do rio. Somente fui à Passagem depois e adulto e ouvindo a falar de Neópolis, uma palavra meio chata e até engrola um pouco a língua. Ela exige que a gente pense em um néo e em uma polis. Néo de novo, polis de cidade. Ela engana, faz a gente sentir-se inteligente ao decifrá-la. Cidade Nova. Era uma cidade calçada na famosa fábrica de tecidos que aconteceu por lá.
Penedo está ao fundo; na verdade eu não teria visto esta paisagem.. Aquele hotel não existia. Era, se não me engano, um sobrado. Derrubaram. Fizeram o Hotel São Francisco. Corre uma urban legend engraçada.
O dono do Hotel era muito rico e teria se chateado com vedetes de uma
companhia que passou em Penedo. Elas diziam que a cidade não prestava,
por não ter um Hotel. Aí, ele pegou dinheiro e fez uma obra monumental, uma imensa representação de um capital que já estava decadente. Macacos me mordam: a falência deveria estar prestes a bater, em face, inclusive, da crise têxtil. Macacos me mordam novamente: um dinheiro que fez falta.
Hoje, as lanchas também não são as mesmas que vi. É de se ver a brancona turistosa, pensada para descer até a foz, pssando pelos canais e caindo do manejos das marolas, dando o bordo antes que o mar começe a falar gosso.
Até que deste ângulo, ela fica bonita. Salve a beleza. Acho que a foto foi na hora de uma preámar. O rio parece um piscina, sem marola, sem balançar canoa salvo pelo peso, algumas vezes, da refrega nas velas.
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