Esta matéria foi publicada no tablóide Contexto do jornal
Tribuna Independente, Maceió, na edição de 23 de Outubro
de 2011
O
grupo Índios de Alagoas: cotidiano e
etnohistória surgiu no contexto de renovação dos estudos sobre os povos
indígenas em Alagoas. Sob
a coordenação do professor Luiz Sávio de Almeida, o grupo construiu uma
trajetória consequente para aqueles que estudam e fazem pesquisa sobre a
realidade indígena no Nordeste, sobretudo em nosso Estado. Essa
trajetória se traduz no compromisso político com as causas dos índios e na
parceria com pesquisadores e instituições acadêmicas diversas, tanto em nível
local como nacional e internacional.
A
questão indígena se renova no contexto da redemocratização, anos oitenta. Os povos indígenas assumem
visibilidade e isso fortaleceu a luta
pela terra e pelo reconhecimento étnico. Esse contexto vem reforçar a resistência desses povos. Em consequência
apareceu a necessidade da academia e do movimento indígena rediscutirem o
processo, o que levou a se construir uma
nova escrita da história indígena, inclusive, a alagoana. Clóvis Antunes, Vera
Calheiros e Dirceu Lindoso aparecem como pioneiros na construção desse novo
olhar. O primeiro destaca a importância da ação política dos índios, enquanto
Vera Calheiros abre as portas para um novo encontro antropológico, enquanto
Dirceu Lindoso tece uma etnografia do processo das matas.
Nos
anos noventa, as pesquisas desenvolvidas pelos professores Sílvia Martins e
Luiz Sávio de Almeida deram continuidade à retomada da questão indígena pela
Universidade Federal de Alagoas (UFAL). É neste momento que surge o grupo de pesquisa:
Índios de Alagoas: cotidiano e
etnohistória.
O
grupo nasceu dentro a consolidação de grupos de pesquisa pelo CNPQ e teve o
propósito de contribuir com o movimento indígena e, como consequência, procurou
articular a Universidade à realidade vivenciada pelos índios através de inúmeras
formas de atividade que visavam maior integração do universo acadêmico com o
indígena. Para tanto, aconteceram projetos de pesquisa, grupos de estudos,
seminários, debates e encontros que marcaram a trajetória acadêmica de muitos
alunos de história e de ciências sociais, alguns encaminhados para a
pós-graduação dentro deste campo de trabalho..
Nesses
tantos anos de história do grupo Índios
de Alagoas, foram inúmeros estudos e pesquisas realizadas em quase todas as
comunidades indígenas de Alagoas, além de seminários e cursos sobre os
fundamentos de antropologia, sociologia, história e realidade alagoana. Como
resultados dessas atividades tivemos, inclusive por iniciativa do Professor
Sávio de Almeida, a criação da disciplina “Índios de Alagoas” no âmbito do
Departamento de Ciências Sociais da UFAL, bem como a criação da Coleção Índios do Nordeste: temas e problemas,
que já chegou a 13 livros publicados – contendo artigos, dissertações, teses e
memórias –, inclusive com trabalhos produzidos pelos próprios índios. Tanto a
diversidade dos temas quanto a formação e atuação desses autores fizeram-na um
espaço democrático. É, também, um conjunto de trabalhos que não busca somente a
excelência acadêmica, preocupando-se, fundamentalmente, com a luta dos povos
indígenas. Este volume traz autores que dão continuidade a este propósito.
Coleção Índios do Nordeste: refletindo
com os índios
A
Coleção Índios do Nordeste se tornou
o principal meio de publicação das pesquisas realizadas sobre os índios em
Alagoas, além de ser um canal aberto para publicação de trabalhos produzidos no
Nordeste e em outras regiões, inclusive fora do país. Já são mais de doze anos
produzindo sistematicamente sobre os índios nordestinos, em especial, os
alagoanos. Durante esse período, esta coletânea não se constituiu apenas um
espaço de reflexão, ela se transformou num instrumento político dos povos
indígenas de Alagoas. A partir do 5º volume, a Coleção se especializou em
Alagoas. Já são quatro livros da coleção
que tratam especificamente sobre os nossos índios.
O 5º
volume “Vai-te pra onde não canta galo,
nem boi urra...” Diagnóstico, Tratamento e Cura entre os Kariri-Xiocó é de
autoria de Cristiano Barros Marinho da Silva. Nele, o autor fala da noção de
doença e cura para os Kariri-Xocó, povo indígena localizado no baixo São
Francisco. O 6º volume Xucuru-Kariri:
Saúde na fazenda Canto é uma coletânea organizada pelos professores Luiz
Sávio de Almeida, Rosana Vilela e Francisco Passos. São trabalhos produzidos
por professores e estudantes de medicina, odontologia, nutrição da UFAL, história, ciências sociais
sobre a saúde do povo Xucuru-Kariri de Palmeira dos Índios, Fazenda Canto. .
Esse volume é fruto da parceria entre os grupos Índios de Alagoas: cotidiano e etno-história e Grupo de Estudos de Saúde em População de Baixa Renda.
A Serra dos Perigosos: guerrilha e índio no
sertão de Alagoas (7º volume) é resultado da dissertação de sociologia de
Amaro Hélio Leite da Silva, orientando do Professor Luiz Sávio de Almeida.
Tomando como base a relação classe-etnia, o autor mostra como foi possível o
encontro entre o grupo revolucionário da Ação Popular (AP) e os índios
Geripankó, do alto sertão de Alagoas, no contexto ditatorial dos anos 60.
Os Filhos de Jurema na Floresta dos
Espíritos (9º volume) de Clarice Novaes da Mota é um trabalho
sobre os índios do baixo São Francisco e trata-se de pesquisa pioneira sobre o uso da jurema entre
os índios Xocó de Sergipe e Kariri-Xocó
de Alagoas. O texto chama atenção para as práticas médicas utilizadas por essas
comunidades e a condição de atividades xamânicas..
Os
demais volumes da Coleção são partilhados por inúmeros autores, inclusive do
estrangeiro. Temas como etnia, política, história, cotidiano, terra e poder
reafirmam o compromisso da coleção com a indissociabilidade entre teoria e política.
Há uma diversidade de autores e instituições que contribuíram para a formação
da Coleção que jamais deixou de
considerar aquilo que para nós continua sendo o maior problema indígena: a
luta pela terra e pela afirmação étnica. Entendemos que se não levarmos em
conta estes elementos, qualquer compreensão sobre a história dos índios de
Alagoas fica incompleta.
Os novos lançamentos da Coleção
Índios de Alagoas: memória, educação,
sociedade (volume 12)
Os
trabalhos desta coletânea nasceram da Mesa Redonda Índios de Alagoas, ocorrida
na IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas, organizada pela Editora da
Universidade Federal de Alagoas (EDUFAL), com exceção dos textos dos professores
José Ivanilson da Silva Barbalho e Rogério Rodrigues dos Santos. Desses
estudos, dois deles se dedicam aos povos Xucuru-Kariri, é o caso dos textos de
Gilberto Ferreira e Rogério Rodrigues sobre “as lembranças de Antonio
Selestino, Pajé Xucuru-Kariri”; e de Aldemir Barros sobre “o cotidiano dos
índios aldeados”. Um deles, o de Jorge Vieira e João Daniel Batista Maia,
trabalha o papel dos meios de comunicação impressa sobre a diversidade cultural
do povo indígena Koiupanká. O estudo de José Ivamilson Silva Barbalho passa,
fundamentalmente, pela pesquisa sobre a educação indígena, destacando-se o
lugar da escola para os povos indígenas do Brasil. Já o estudo de Ivan Farias
Soares, trata da etnohistória e etnicidade dos índios Geripankó.
Doenças,
dramas e narrativas entre os índios Jeripankó no sertão de Alagoas (volume
13)
josehelenoindigenista.blogspot.com
Geripanko |
Ivan
Soares Farias é o responsável pelo 13º livro da Coleção Índios do Nordeste. O
título é Doenças, dramas e narrativas entre os índios Geripankó no sertão de
Alagoas e, evidentemente, trata da etnia e da saúde daquele grupo indígena.
Os parceiros de trabalho e reflexão
Tanto
a história do Grupo Índios de Alagoas
quanto da Coleção Índios do nordeste
foram construídas, em parte, através de parcerias e apoios imprescindíveis.
Foram muitos os pesquisadores e instituições que contribuíram para o
fortalecimento do nosso grupo.
Na
Universidade Federal de Alagoas podemos destacar a EDUFAL, o Grupo de Estudos de Saúde em população Marginal
e Baixa Renda,. A EDUFAL tem sido
fundamental para a publicação de textos e fortalecimento da causa indígena em nosso Estado. Um grande número de universidades brasileiras
colaboraram com a nossa Coleção, bem como instituições internacionais de países
como Nova Zelândia, Estados Unidos, Austrália, Holanda, Espanha, Peru.
No
Instituto Federal de Alagoas (IFAL) destacamos as nossas relações com o Grupo
de Estudo Memória e Etnohistória de Alagoas (GEMTEH). É importante destacar
também a parceria construída com o Jornal Tribuna Independente, CONTEXTO, que
publicará vários trabalhos sobre os índios de Alagoas. E, finalmente, o grupo
Agenda Alagoas, formado por diversos grupos de pesquisa e organizações da
sociedade civil, que desde o final de 2009 tem realizado diversas atividades
sobre a realidade alagoana, especialmente sobre as comunidades étnicas e
periféricas do nosso Estado.
Sem
dúvida, não é fácil manter uma produção sistemática durante tantos anos. Apesar
das dificuldades de um Estado carente em ensino e pesquisa, o grupo Índios de
Alagoas persiste produzindo e contribuindo com as causas dos povos
indígenas. As parcerias e apoios foram
importantes para a construção dessa trajetória.
Que prazer conhecer esse homem inteligentíssimo e com obras maravilhosas. Principalmente por algumas se tratar do meu cotidiano. Parabéns Luiz Sávio!
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