ALMEIDA, Luiz Sávio de. Um abraço no Bastinho. Tribuna Independente. Maceió, 08 abr. 2012. Contexto.
Um pequeno bilhete sobre Bastinho
Morreu Bastinho, um homem que marcou a história do
futebol alagoano, como dirigente da Federação Alagoana de Desportos, depois de
Futebol. Contexto dá um abraço na
família, em sua esposa, em sua filha de quem me lembro ainda pequena.
Sávio de Almeida
Um abraço no Bastinho
Luiz Sávio de Almeida
Uma
vez e faz certo tempo, estávamos conversando no Trapichão sobre a história do
futebol em Alagoas. Lembro que a conversa resvalou para cartolas. A roda era
Roberto Mendes, Toroca e mais uma pessoa de quem não me recordo. Parece que
houve um acordo: o grande cartola de Alagoas foi o Bastinho. Vamos e venhamos: foram
anos à frente da Federação, cerca de dez anos e profundamente integrado ao
circuito nordestino de apoio a Havelange; inclusive havia uma grande ligação
com Pernambuco, que, parece, cumpria a função de coordenação política dos
interesses de Havelange no Nordeste.
Quem
lidou pessoalmente com Bastinho, sabe da sua habilidade afável, do modo como procedia
na coordenação política do futebol, sempre abrindo espaços para conversações,
para entendimento. Na verdade, era um
hábil negociador que traçou uma rede de alianças locais e, ao mesmo tempo,
jogou com a moeda das suas ligações com Havelange, de quem era declarado
eleitor e a quem sempre foi fiel. Então,
Bastinho demarcava sua posição pela sua vinculação nacional e seu comportamento
mediador no desenvolvimento da política local do futebol. Ao lado dessas
habilidades, Bastinho sempre foi pessoalmente honesto. Não conheço, durante
anos de convivência, qualquer insinuação do nome do Bastinho ligado à
corrupção. Jamais. Honesto sim!
Futebol,
em sua história, é muito forçado sobre a prática esportiva em si, pesando
elementos como clubes, craques, as torcidas e ficando de lado um dos seus
aspectos mais importantes: o desenvolvimento de sua política, a forma como se
lida e consolida o poder no seio de suas hostes. De muito, a Federação Alagoana
de Desportos merece um estudo acadêmico, uma espécie de verificação da
caminhada da Coligação Esportiva para Federação Alagoana de Futebol. A
Coligação já estava a demonstrar a complexidade da vida esportiva no Estado e a
necessária insinuação de interesses. A
mudança para a Federação Alagoana de Desportos é de 1934, em plena consolidação
de Vargas e não deve ter sido por coincidência que em 1932, Edgar de Góes
Monteiro estivesse na Presidência da Coligação.
São poucos, contudo, os nomes de
alta expressão política na vida local a estarem na presidência da entidade,
pelo que podemos identificar. Bastinho sempre ocupou posições dentro do Estado,
mas isto derivou bem mais de sua habilidade pessoal do que em razão de sua
presidência que teve três períodos. O primeiro vai de 1961 até 1968, quando
perde por negociação política urdida por Remy Maia que, por seu turno, vai ser
sucedido por Orlando Gomes de Barros, Cleto Marques Luz e enfraquece com Heider
Silveira, o que permite a Bastinho rearticular-se e cumprir o mandato de 1985
até 1988; volta em 1991 e vai até 1999 quando deixa para José Tavares, indo ocupar
posição na CBF, sendo um Vice-Presidente da entidade.
Há um caminho do poder no
futebol que vai do clube à Federação.
Como se dá o fortalecimento político para controle do clube; o que
possibilita e como possibilita alguém tornar-se Presidente? E como se negocia uma Presidência da
Federação, praticamente colegiada? Como a Federação é vista pela massa de
torcedores? O time presidencia quando um
dos seus de relevos é Presidente? Como se nota, há muito sobre o que escrever,
na medida em que se deseje desvendar a caixa da política do futebol e da
política no futebol, um universo sem dúvida complexo.
Bastinho é parte integrante
desta história, estando na evidência ou nos bastidores, perdendo ou vencendo.
Pelo que tudo indica, ao perder sempre preparava seu retorno e conseguia.
Sabia, portanto, mais do que ninguém, manobrar as artes da política
futebolística. E jamais se poderá pensar no encaminhamento do futebol alagoano
sem passar por ele. Estamos diante,
portanto, de uma figura a ser tomada como exemplar.
A minha grande aventura com o
Bastinho faz muito tempo que aconteceu.
Saímos daqui para almoçar com o Pelé no Recife. Eu não me lembro o que estava acontecendo no
Recife e o almoço seria no Hotel São Domingos. Parece que eu estava com o Zé
Lima. O restaurante estava cheio, mas o Pelé não foi; no entanto, valeu a aventura
Vai lá Bastinho!
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