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Tribuna Independente. Maceió. 06 Mai. 2012. Contexto.
SANTOS, Gutenberg Ives Araújo dos. O consumo e tráfico de drogas por menores em Maceió: um pouco sobre causas, consequências e soluções.Tribuna Independente. Maceió. 06 Mai. 2012. Contexto.
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Um pequeno bilhete sobre menor e drogas
Contexto divulga um estudo realizado por estudante de
direito sobre a relação entre menor e drogas. Trata-se de trabalho de jovem
iniciante em pesquisa e que merece acolhimento como estímulo e, ao mesmo tempo,
reconhecimento quanto a seu interesse em querer cooperar com a discussão relativa aos rumos de
nossa sociedade e papel do direito na construção nacional.
Contexto tem como objetivo geral, contribuir para que se pense Alagoas.
Então é um espaço aberto para qualquer
tipo de pensamento, desde que o texto tenha a necessária qualidade. Um de seus pontos específicos consiste em
estimular pesquisadores que se iniciam no ofício, abrindo a possibilidade de
publicação, não somente como incentivo, mas como indicação de que a temática
deve ser discutida. Ler um estudante que se inicia no ofício de pensar, é
estimulante.
Apesar da grande diversificação de temas, Contexto não é
fragmentado, em virtude, justamente, do
fio condutor que é Alagoas e o propósito de cooperar com o refazer de nossa
sociedade. Por outro lado, Contexto deseja ser um grande depoimento para o
futuro e quanto mais trouxer de juventude, mais cumprirá seu papel.
Sávio
de Almeida
Menores
e drogas em Alagoas
Luiz
Sávio de Almeida
Como dissemos em nosso bilhete, um dos objetivos de Contexto é dar espaço àqueles
que se iniciam no mundo da pesquisa; estudantes que começam a vislumbrar uma
possibilidade de caminhar pelo mundo acadêmico. O texto desta edição deve ser
lido nesta perspectiva de iniciação, um quase ritual de começo, texto rico de intenção,
vontade de falar, produzir e contribuir. O jovem que começa a desenvolver a
iniciativa de produzir deve ser amparado de todas as formas possíveis, e esta é
uma obrigação de Contexto. Por isto, trazemos a contribuição de um estudante de
direito: Gutenberg Ivis Araújo dos Santos, membro do Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Direito, Sociedade e Violência (CESMAC). Contexto deseja ser um incentivo para que Gutenberg se dedique
cada vez mais à aventura de pensar e a missão de cidadania que é a de se
pronunciar, falar para a sociedade, tornar-se um intelectual público.
O autor demonstra sua preocupação com
uma questão extremamente grave: o relacionamento entre menor e droga. Sem
qualquer sombra de dúvida, o menor é o grupo de mais extrema vulnerabilidade à
droga, especialmente depois que o crack passou a determinar um novo tipo de
performance do tráfico, colocando-o no centro do consumo e distribuição.
A imprensa é fértil em noticiar casos e
o panorama do envolvimento do menor em Alagoas é montado cotidianamente: uma
morte aqui, uma escola invadida, uma família... O grande vilão é o crack; é seu preço barato e sua forma de ser
comercializado que o leva a invadir a cidade com uma força assombrosa, cujos
tentáculos baixos dão o espetáculo do crime, enquanto os altos tentáculos
permanecem ignotos e se beneficiando de toda a miséria que causam. Alguns deles têm que aparecer com urgência;
não se pode mais continuar fazendo a população ver apenas a brutalidade do pequeno
cotidiano, da droga em varejo; é preciso que ela veja além do traficante miúdo. Este cara que aparecerá é terrivelmente
hediondo, como todo traficante é pelo assalto realizado contra a dignidade
humana. Ele sim, é o artífice da grande tortura.
Quando Gutenberg escolhe o tema da ligação
entre menor e droga, sua consciência de cidadão, que sempre deve estar lastreando
o trabalho acadêmico, sente a relação íntima entre direito e sociedade; aparece
a necessidade de manter-se o direito com sua destinação comunitária, parte
integrante da construção, portanto, da comunitas. O manejo da argumentação
sobre o fato é montado no lastro constitucional, que sempre argumentará com o sentido do bem
comum, ou daquele que perpassa pelas estruturas cotidianas dando indicações
concretas que uma garantia mínima de vida se estabiliza na sociedade e, uma
delas, é a forma de ter-se a nação vivendo o máximo possível, aquilo que é
chamado de justiça social.
A territorialização do crack acerbou o domínio
territorial e a geração de um contexto anti-nação, aparentemente
pulverizado. Talvez, esta seja a tarefa
mais urgente que o estado brasileiro tem à sua frente: destruir a logística da
droga. É que o combate ao tráfico é uma questão do tipo “omnibus”; é como que se,
ao falarmos de outras resoluções, montássemos um tom tautológico sobre o
universo de problemas urbanos. Não é que
tudo se derive da droga e nem que a droga esteja em tudo. Não é dar à droga um
caráter universalizante sobre o mundo da violência, mas entender que ela é
central e que o estado brasileiro precisa enfrentá-la como prioridade zero.
O leitor encontrará neste texto, a
posição de um estudante, sua forma de ver e abordar a questão, colocando em
relevo a posição do corpo do direito. É uma reflexão que demonstra o caminho
que ele poderá percorrer. As ilustrações foram retiradas do acervo da Tribuna
Independente; raro é o dia em que menor e droga não estejam nas páginas dos
jornais e o mesmo, necessariamente, acontece com a Tribuna Independente que dedica sua atenção à
análise do que vem acontecendo nesta nossa Alagoas, mormente nos contrafortes
da valorosa Maceió.
O consumo e tráfico de drogas por
menores em Maceió: um pouco sobre causas, consequências e soluções
Gutenberg Ives Araújo dos Santos
Atualmente, vivenciamos em Maceió uma situação grave que merece atenção especial.
O problema é a crescente onda de consumo de drogas por menores de 18 anos e o
envolvimento deles com o tráfico. A discussão acerca dessas questões é de
fundamental importância, pois estamos diante de situações que deixam a nova
geração maceioense vulnerável, comprometendo a perspectiva de vida que os
menores terão.
Apesar de o consumo e tráfico de drogas
acontecerem com alta frequência em nossa cidade, as ocorrências parecem ser
poucas registradas pelo Estado e por organizações da sociedade civil, haja
vista que não existe uma política efetivamente montada para gerar um sistema de
informação pública consequente. A ineficiência de um programa sistemático que
verifique e trabalhe com essas situações é preocupante, pois dificulta a
possibilidade de diminuir as consequências produzidas pela droga, que afeta a
segurança, a saúde, a educação, o bem-estar e a paz social.
Percebe-se que, mesmo com todos os problemas sociais
e pessoais decorrentes do consumo de entorpecente, a droga, mormente o crack, consegue
escravizar crianças e adolescentes, disseminando-se com extrema facilidade e
rapidez, invadindo lares, destruindo vidas e gerando cada vez mais dependentes.
Se os menores envolvidos com entorpecentes sabem
das perigosas consequências que a droga produz, por que ela se torna tão atrativa
para o consumo? É difícil dar uma resposta à questão, pois cada usuário tem um
padrão de vida diferente, tem uma história e motivos que o levaram ao vício.
Um menor com uma situação econômica bem
favorecida pode sentir atração pelas drogas e pelo tráfico em virtude da
curiosidade, da busca por maiores emoções, da sensação de prazer, da diversão
ou por problemas pessoais de diversas qualidades. É o ‘’brinquedo ilegal’’ que
os pais e familiares não permitem utilizar, mas que o dinheiro fornece a
possibilidade de compra. Por outro lado, para um menor que não possui uma
situação financeira favorável, que é refém das desigualdades sociais e
econômicas impostas pela sociedade, a droga tem um poder de atração
diferenciado, inclusive, por estar em outro extrato de renda.
Em meio às diferenças quanto ao poder
atrativo da droga, existe uma particularidade que pode ser encontrada tanto em
menores de classe alta como também de classe baixa. Estamos nos referindo aos
menores que visualizam o consumo e o tráfico como saídas ou solução para os
seus problemas. É o momento em que ele pode escapar da opressão e dos
infortúnios de sua vida e sentir o curto período de ‘’prazer’’, mesmo tendo que
arcar com as consequências, que não serão poucas.
É difícil afirmar quais são os fatores que
levam um jovem a se envolver com droga, até porque cada usuário, como já
mencionamos, tem uma história de vida e um caminho que o levou até ao vício.
Entretanto, podemos destacar alguns fatores que podem influenciar de forma
significativa. O primeiro seria a educação familiar, pois a família é elemento
imprescindível no período de formação da personalidade da criança e do
adolescente.
O ideal seria que a família proporcionasse um
acompanhamento afetivo, psicológico, moral, social, fornecendo um suporte para
que o menor pudesse confrontar-se com os problemas que irão surgir durante a
sua vida. Não existindo esse acompanhamento no processo de formação, inclusive
sem discutir padrões de ‘’certo’’ e ‘’errado’’, ele provavelmente se encontrará
mais frágil, vulnerável.
A diferença crucial que traçará o caminho a
ser tomado por esse jovem será o ambiente em que está inserido e as pessoas que
convivem com ele. É muito comum que menores experimentem substâncias por
incentivo de amigos e/ou influência do ambiente. Num caso contrário – a chance
de um adolescente deixar-se levar por qualquer tipo de fator externo que o
induza ao consumo – é consideravelmente mais remota.
Ainda na questão da educação familiar, é importantíssima
a discussão sobre um bom tipo de conduta para o adolescente, pois o mesmo, nessa
fase da vida, encontra-se em constante busca de identidade. A partir do momento
em que a família não dialoga sobre o perigo que envolve certos tipos de
comportamentos – chegando até a consumir drogas na frente do menor –
automaticamente faz com que lhe desperte o interesse, deixando possivelmente o
entendimento de que o menor tem liberdade suficiente para poder experimentar.
A inserção do menor no mundo das drogas
também acontece em face do preenchimento de algum tipo de necessidade psicológica
ou frustração. Isto pode acontecer por diversos conflitos ocorridos durante a
vida. Neste momento, o apoio de familiares e amigos é imprescindível, pois as sequelas
causadas por um fato que tenha marcado negativamente a vida do jovem contribuem
para que ele busque refúgio nas drogas.
Sendo assim, a família e os amigos podem ser
uma das principais forças no combate ao consumo e tráfico de drogas por
menores. Entretanto, ao mesmo tempo em que esses elementos são importantes, também
carregam um potencial enorme para desencadear problemas que levem o jovem a esse
mundo ocioso, em virtude do poder de influência que os entorpecentes possuem.
Apesar de o envolvimento de menores com as
drogas ter uma ligação com fatores associados ao indivíduo, o enfoque social
merece destaque, pois nem sempre os problemas surgirão dentro do lar e poderão
ser resolvidos pela família, pelos amigos ou pelo próprio indivíduo. São
problemas que estão além da vontade ou escolha desses jovens, e que só podem
ser resolvidos através da reorganização e transformação da sociedade.
Situações adversas e de cunho social como – a
desigualdade econômica, preconceito, discriminação, educação de baixa
qualidade, precariedade na saúde pública, desemprego, entre outras mazelas da
sociedade – são fatores que propiciam significativamente o consumo e o tráfico.
Até porque, não se pode exigir que o menor usuário abandone o vício se o Estado
não fornece meios suficientes para isso. Principalmente, quando pensamos no caso
do menor de baixa renda, que muitas vezes não pode desfrutar com condições
dignas de sobrevivência, tampouco realizar os seus sonhos.
Obviamente existem menores que tiveram uma
família, uma educação e todo um suporte que lhe ofereceu a possibilidade de tomar
decisões corretas para a sua vida. Entretanto, nem todos tiveram a opção de
escolher o caminho longe das drogas, e por isso não podemos cobrar deles
atitudes de um jovem com uma postura correta e de cidadão, pois ele não recebeu
esse tratamento e atenção do Estado.
Sendo assim, não podemos colocar todo esse
fardo nas costas do menor. O governo também é responsável em face da
ineficiência na prestação dos serviços sociais mencionados anteriormente. No
que diz respeito à sociedade, também é possível atribuir-lhe uma parcela de
culpa, pois, em algumas situações, constatam-se o preconceito, a discriminação
e a indiferença perante o terrível pesadelo que assombra os menores envolvidos
com drogas.
Convém considerar que criminosos aproveitam-se
da dependência causada pelas drogas para lucrar em cima dos usuários através do
tráfico, mantendo com eles uma ligação muito próxima. Nessa situação, é preciso
separar o bandido do usuário. O consumidor da droga, inclusive o menor, é a
principal vítima nesse caso, pois está condenando a si próprio, destruindo a
sua própria vida.
Dessa forma, não podemos julgar nem condenar
o jovem usuário, pois, no momento em que ele inicia o consumo de drogas, o
pensamento está focado em fugir dos problemas que o levaram a esse rumo.
Entretanto, o menor precisa entender que somente acumulará mais problemas, pois
as consequências do uso dessas substâncias serão gravíssimas, tornando-se, na
maioria dos casos, um caminho sem volta, pois uma única dose pode levar à
dependência.
Esse poder de dependência que as drogas
exercem sobre o usuário é altíssimo, existindo dois tipos: a física e a
psíquica. Na dependência física, o organismo acostuma-se a determinada
substância, existindo a necessidade orgânica de receber doses. Na dependência
química, o usuário tem uma sensação de prazer, bem-estar, ao consumir a droga,
ou seja, é um desejo psicológico.
Diante de todos os problemas abordados
anteriormente e que fazem parte do cotidiano da sociedade maceioense, é de
necessidade urgente que se realizem medidas para o combate ao consumo e tráfico
de drogas por menores de idade. É fundamental que o Estado atue junto à
sociedade a fim de evitar as consequências ocasionadas pelo envolvimento do
menor com as drogas.
A educação familiar, já mencionada anteriormente,
pode ser uma importante ferramenta. É primordial não somente um acompanhamento
no período de formação do adolescente, mas também no momento em que ele torna-se
um usuário, pois o acolhimento da família, dos amigos e do Estado pode ajudar
na sua reabilitação. Abandonar o usuário à própria sorte somente vai acarretar
na destruição da vida desse indivíduo.
Com uma função imprescindível, o Estado
necessita atuar positivamente no combate ao consumo de drogas por menores.
Primeiramente o nosso problema deve ser tratado em questões como a saúde, educação
escolar, esporte e lazer. Com um papel secundário, os órgãos de segurança devem
trabalhar coibindo as atividades criminosas, protegendo a sociedade e não
discriminando o menor usuário ou ferindo os seus direitos.
Dessa
forma, é importante que o Estado acolha o menor envolvido com drogas,
efetivando na prática o art. 227, da Constituição Federal, que dispõe ser ‘’dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão’’.
O governo também poderia trabalhar na
construção de mais clínicas de reabilitações, oferecendo um suporte
psicológico, educacional, cultural e lazer, visualizando não somente a
regeneração do usuário, como o seu retorno para o convívio em sociedade. É
lamentável que tenhamos tão poucos centros de recuperação de menores usuários
para a demanda existente em nossa cidade, algo que dificulta e desestimula o
adolescente a buscar meios que ajudem na sua regeneração.
Ressalto que também é importante o
investimento na educação. Escolas com uma boa qualidade de ensino, oferecendo
uma infraestrutura adequada, merenda para todos os alunos, entre outras
melhorias, oportunizariam aos menores um maior gosto pelos estudos, desviando o
foco de atividades ilícitas. Outro ponto que merece destaque é a aplicação de
recursos financeiros na área do esporte e lazer para a criança e o adolescente.
Disponibilizando-se meios que evitem a procura da rua como espaço para diversão,
afasta-se do menor a possibilidade de entrar em contato com as drogas.
Por fim, os governantes também têm a
responsabilidade de fazer campanhas e trabalhar na reeducação da sociedade,
pois atualmente existe um preconceito enorme com os usuários. Estigmatizar esse
menor somente vai dificultar o seu processo de reabilitação, com grande
possibilidade de o mesmo, no futuro, cultivar problemas para si, como também
ser prejudicial à sociedade.
Sendo assim, é fundamental a conscientização
do menor no tocante aos perigos do consumo de drogas, a que se associa a
importância da família, dos governantes e de todos os cidadãos nesse processo.
Ressalto que não é uma batalha travada somente pelos menores usuários, mas também
por toda a sociedade em busca de um melhor bem-estar social, paz, segurança e
saúde para todos.
REFERÊNCIAS
Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988.
Entrevista
realizada com a Psicóloga Clínica e Escolar, Especialista em Psicologia Clínica
e Saúde Mental, Joseni Araújo dos Santos. Entrevista concedida a Gutenberg Ives
em 05 de novembro de 2011.
Entrevista
realizada com Maria Lopes. Material integrante do acervo do Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Direito, Sociedade e Violência (CESMAC). Entrevista concedida
aos alunos Flávio Salgueiro e João Paulo.
PIRES,
Cristina do Valle G; et al. O dia-a-dia
do professor: adolescência – afetividade, sexualidade e drogas. 6 ed. Belo Horizonte: Fapi, 2002. 5v.
VIZZOLTO,
Maria Salete. Drogas – respostas para as
dúvidas mais freqüentes. Pinheiros: Geração Saúde. 1998. Coleção: Geração
Saúde.
Prezado Professor Luiz Sávio de Almeida,
ResponderExcluirSou professora do Curso de História/UFAL/Campus do Sertão e preciso do seu e-mail para convidá-lo a participar de um evento aqui no Campus.
Saudações cordiais,
Profa. Sheyla Farias
sheylafarias@yahoo.com.br