Esta matéria foi publicada no tablóide Contexto do jornal
Tribuna Independente, Maceió, na edição de 23 de Outubro
de 2011
A
trajetória de vida do autor revela os índios no centro de suas preocupações.
Ele tem formação antropológica e jurídica desenvolvida em razão de seu
envolvimento com a questão indígena de nosso país. Ele não escreve por
escrever, o faz pelo comprometimento pessoal com a causa indígena surgido desde
os tempos de estudante de ciências sociais na Universidade Federal Fluminense,
após ter deixado o curso de engenharia civil e escolhido trilhar os caminhos
certamente reveladores da antropologia.
Após
terminar o curso de ciências sociais, foi estudar cinema visando a produção de
filmes etnográficos. Deixou o curso para assumir prematuramente a posição de
antropólogo da área indígena Yanomami pela Fundação Nacional de Saúde no estado
de Roraima, quando, possivelmente, este livro começa a ser esboçado. Tomado
pela primeira experiência frente à dura realidade de vida e sobrevivência dos
índios no Brasil, resolve aprofundar seus conhecimentos na matéria realizando o
Mestrado em Antropologia Social na UNICAMP; razão pela qual costuma dizer que
foram os índios que escolheram seu trajeto profissional e o fizeram
antropólogo, apesar do título que lhe conferiu a Academia.
Submete-se
a concurso novamente, como fizera para trabalhar com os Yanomami na FUNASA,
desta feita para o Ministério Público Federal, tornando-se Analista Pericial em
Antropologia, vindo para Alagoas após um período no Norte do país. A esta
altura acumulara novas experiências junto a outras etnias indígenas, fossem com
os grupos do serrado de Roraima, os Macuxi e os Wapishana da famosa Raposa
Serra do sol, fossem com os Guarani-Mbyá da cidade de Paraty no Rio de Janeiro.
Em
Alagoas, travou contato com uma etnicidade indígena desafiadora, no exato
sentido de não guardar sinais aparentes da imagem do bom selvagem tão difundida
no nosso imaginário, ao contrário daquela amazônica. Aqui, teve seu trabalho no
MPF finalmente reconhecido, viajando o Nordeste indígena em apoio aos
procuradores da República da região. Resolveu estudar Direito, graduou-se na
UFAL e hoje se dedica ao magistério superior nas áreas da Antropologia e Direito.
Escreve ensaios e operacionaliza suas atividades junto ao Ministério Público
Federal, sendo também membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Direito,
Sociedade e Violência do Centro Universitário CESMAC.
Foi
esboçada toda uma carreira voltada para os índios no que concerne à pesquisa,
aos serviços públicos e à política. Ivan é um intelectual público, no sentido
de que dialoga com seu povo, e engajado, no sentido de que faz do pensamento
instrumento de ação inclusiva, assumindo e mantendo posições corajosas e
firmes. É por tais posições que saiu do Norte e veio para Alagoas a convite de
Delson Lira que o desejou a seu lado no Ministério Público Federal. Este é o
primeiro livro que publica, assumindo sua antiga preocupação com a questão da
saúde e dedicando-se ao estudo dos Jeripankó, um povo encravado na região do
sertão alagoano e de derivação Pankararu.
É
com honra que a Coleção Índios do Nordeste abriga o texto. Trata-se do quarto
volume de autor individual e o terceiro diretamente ligado à área da saúde.
Dois desses livros são de caráter fundamentalmente antropológico e o terceiro é
um diagnóstico de saúde do povo Xucuru-Kariri da Fazenda Canto em Palmeira dos
Índios. Os dois outros trabalhos foram realizados sobre os Kariri-Xocó, Porto
Real do Colégio, margem sanfranciscana de Alagoas, escritos por Clarice Novaes
da Mota e Christiano Barros Marinho da Silva. Por outro lado, é o segundo
volume lançado sobre os Jeripankó, com o primeiro tendo sido da autoria de
Amaro Hélio Leite da Silva.
Era
alta a realização de pesquisa sobre a saúde dos índios de Alagoas na UFAL,
especialmente pela junção do Grupo Índios de Alagoas: cotidiano e etnohistória
e o Grupo de Estudo de Saúde em população Marginal de Baixa Renda. Dessa união
foram gerados inúmeros trabalhos junto ao então Departamento de Clínica Médica
do curso de Medicina, como dissertação de mestrado, trabalhos de conclusão de
curso, textos produzidos para encontros científicos e publicações. Atualmente,
há produção em desenvolvimento na área de nutrição, centrada, sobretudo, em
segurança alimentar.
O
professor Ivan Farias publica uma etnografia onde o processo saúde/doença é
discutido em duas vertentes principais, sendo uma delas relativa à prestação
dos serviços de saúde aos Jeripankó e a outra, mais propriamente envolvida com
o universo cultural, trabalha as representações construídas ao longo da
história do grupo com relação a saúde e a doença e as interliga ao universo da
produção, caracteristicamente levado a proletarização; mas ambas as vertentes,
dispostas a influenciar as ações oficiais de assistência de saúde destinada ao
grupo e seus aparentados pela incorporação de suas noções tradicionais.
Na
verdade, a contribuição vai além dos índios Jeripankó, sendo possível pensar em
um ensaio sobre a totalidade de nossos índios sertanejos e um recorte básico
sobre um índio alagoano. É mais um trabalho seminal para Alagoas em que soma a
sua disposição de participar politicamente à de discutir cientificamente. Sua
contribuição é grande e ajuda a solidificar a nossa Coleção e a linha editorial
da Universidade Federal de Alagoas.
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