AMARAL, Flávia. Menina deixou escola após ‘pressão’. Diretora da Theonilo
Gama admite que não havia controle sobre tratamento que a aluna recebia por ter
cabelo crespo. Tribuna Independente. Maceió, 16 out. 2011, p. 13.
Basta visitar uma escola para que
numa conversa rápida com alunos fique evidente a importância de a temática do
racismo ser encarada como prioridade e entrar na pauta de discussão de gestores
da Educação.
A sala do oitavo ano da Escola
Theonilo Gama, no Jacintinho, não difere das demais, como afirmou Valéria
Silva, que acompanhou o drama de uma colega negra e de cabelo crespo, que
deixou a escola. "O cabelo dela é bem ruim, por isso ela sempre tem que
ouvir o pessoal chamar de Foguinho. Todos da sala mexem com ela e ela já chegou
a chorar muitas vezes", lamentou a estudante.
Fomos até a escola para
conversarmos com a vítima, mas era tarde. Segundo a diretora Gilvanete Matias
da Silva, a jovem saiu do colégio por não suportar a pressão dos colegas pelo
fato de ela ter o cabelo crespo. "Ela vinha à direção, a gente conversava
com os colegas, mas depois acontecia de novo. Ela chegou até a colocar um
aplique no cabelo, mas em vào", contou.
O drama foi acompanhado por
diversos alunos. João Cavalcante, 13, lembra o quanto era difícil para a
estudante se manter em sala de aula. "Vi várias vezes a bichinha chorar.
Ela brigava às vezes e ia na diretoria, mas paravam de mexer com ela naquele
dia. Depois voltava tudo de novo".
Desconhecimento
A
Lei do Racismo nas escolas ainda é ilustre desconhecida de boa parte dos
estudantes de escolas públicas ou particulares.
Mas quando colocados em contato com a essência da lei, a matéria divide opiniões. Em uma conversa com
quatro estudantes negros, permearam
visões bem diferenciadas, mas entre elas um consenso: o racismo precisa ser
combatido.
Para Luigi Nelson de Oliveira,
15, uma disciplina não resolveria um problema tão sério. "Somos todos
iguais e não deveria ter matéria pra gente saber disso e respeitar o outro. Se
não acontece isso hoje, não vai ser uma
matéria que vai mudar", analisou.
Aílton José, também com 15 anos, é mais otimista. "Resolve, sim,
estudar, estudar, até aprender o que é certo e o que é errado". Mais
ponderado. João Cavalcante - que assistiu ás humilhações contra a colega de
turma que acabou indo embora da escola
- admite que a matéria pode não
resolver, mas ajuda a melhorar.
AMARAL, Flávia. Racismo agrava evasão nas esolas. Alunos faltam às aulas ou
até deixam a escola após sequência de humihações cometidas pelos colegas de
sala. Tribuna Independente. Maceió, 16 out. 2011, p. 11.
Foguinho, Carvão, Chocolate.
Negueba. Esses apelidos são rotina na vida escolar de muitos alunos que pagam
caro por terem a pele de cor negra. E é
para erradicar das salas de aula esse tipo de preconceito que foi sancionada a
Lei Federal 10.639 de 2003 que entre outras determinações obriga as unidades de
ensino a inserirem na grade curricular
uma disciplina especifica sobre as
relações étnico-raciais.
Mas, em termos de adesão, o país ainda engatinha: a lei está em apenas 20% da rede de ensino. E em Alagoas apenas uma faculdade particular, a Faculdade Integrada Tiradentos (FITs). adutou a lei em suas práticas pedagógicas.
E enquanto essas e outras medidas
não se tornam realidade, o preconceito racial segue fazendo cada vez mais vítima
e acirrando a problemática da já preocupante evasão escolar. Num efeito dominó,
até mesmo recursos do Bolsa Família estão sendo comprometidos.
Acuados pelo preconceito, alunos
como Jorge (nome fictício), da Escola Rosalvo Lôbo, na Jatiúca, sequer têm
postura altiva em sala de aula. Sentado logo à frente da professora, em uma das
primeiras carteiras, ele pouco fala e de cabeça baixa diz não se importar com
as frequentes humilhações a que é submetido por colegas de turma, num exercício
quase que rotineiro.
Foi
a colega de turma quem detalhou o contexto de agressão vivenciado pelo
estudante. Muitas vezes, ela mesma tem quo intervir, já que ele não costuma esboçar qualquer reação. "Ficam
chamando ele de Chocolate, Negueba. Eu não gosto disso e mando parar porque ele
fica quieto, aguenta calado. Um absurdo!", diz a colega com ar de revolta.
Ela conta que as agressões não
são apenas verbais. Há quem chegue na sala de aula e mande Jorge desocupar a
cadeira para que um outro aluno sente "Ele dizem: sai Negueba, sai. E ele
sai", lembra. Cabisbaixo, Jorge
ouve todoo desabafo da amiga e se restringe a dizer que simplesmente não
liga.
ORÇAMENTO MENOR
Mãe perdeu Bolsa Família após 37
faltas do filho.
Foi fora da sala de aula, na casa
de Jorge (nome fictício), que a reportagem constatou que ele não só se abala com a atitude dos colegas, como
estáse afastando da escola. Aluno média 8,
há algum tempo ele vem faltando
às aulas, e as ausências — até então injustificadas para a família -
impactaram também no estreito orçamento doméstico.
O estudante vive em uma
pequeníssima casa de dois cômodos, na
Grota do Cigano, no Jacintinho, com a
mãe – a diarista Liliane Cardoso dos
Santos, a avó - de mesma profissão,
Maria de Fátima Cardoso, e ainda o irmão Antônio. Sem um pai presente,
os custos da casa são bancados por faxinas esporádicas e com o recurso do Bolsa
Família, no valor de R$ 134.
Não bastasse o dinheiro contado,
a família agora está com o benefício suspenso devido às 37 faltas acumuladas
por Jorge nos últimos meses. "É quando eu não estou mais aguentando tanto
xingamento, apelido, que prefiro não ir para a escola. Aí não vou. Eu não
pedi para ser assim... Preto", lamentou Jorge, que diz ver cada
dia mais distante o sonho de ser advogado. Para ele, em todas as escolas, os
colegas dispensarão a ele o mesmo tipo do tratamento que ele tem hoje. "Já
ouvi de outros amigos que são pretos que é do mesmo jeito. Então nem adianta
mudar de escola", conclui.
A apatia aparente quanto às
humilhações que o estudante sofre é explicada pelos conselhos recebidos pela
mãe. "Ele chega em casa reclamando que ficam colocando esses apelidos
nele e eu digo sempre que ele entregue a
Deus e não brigue com ninguém. Entre na escola, estude e venha embora. Além de
pretos, minha filha, somos pobres", resumiu Liliane enquanto o filho ouvia a tudo atento,
mas ainda de cabeça baixa.
Diferenças
Albinos também são alvo de
discriminação
O racismo não se restringe
àqueles de cor negra. No outro extremo, ele também se faz presente. Jovens com
albinismo — pele extremamente branca
pela ausência de melanina - também são
alvos de chacotas e discriminação. O professor de jiu-jit-su, Tales Rocha,
vivenciou isso na prática.
Ele é negro e embora nunca tenha
vivenciado situações de racismo direcionadas a ele, já assistiu a inúmeros
casos e em alguns deles partiu em defesa da vítima. Um rapaz albino teria sido
covardemente humilhado por dois colegas, na quadra de esportes da Escola
Rosalvo Lôbo. "Ele foi xingado várias vezes e eu tomei as dores dele.
Fomos parar na direção e acabamos suspensos, os quatro", contou o
professor, que diz acreditar que uma vez adotada a Lei do Racismo, nas escolas,
situações como essas tendam a se tornar menos frequentes.
TRIBUNA INDEPENDENTE. CONTRA MILITAR. Líder comunitário é preso por
racismo. Tribuna Independente. Maceió, 20 out. 2011, p. 12.
O soldado da Polícia Militar
(PM), Anderson Gazias Abreu, acusou o líder comunitário Gilmar Genival Mendonça
de racismo. Ele teria desacatado o militar e o chamou de "negro
safado", durante uma discussão ocorrida na Rua do Encanto, no Clima Bom. O
crime ocorreu na noite de terça-feira, logo depois que um sobrinho do acusado,
menor de idade, foi detido por policiais, acusado de integrar um grupo que
tinha acabado de trocar tiros com a guarnição da PM. Segundo a Polícia, Gilmar
tentava impedir a prisão do sobrinho.
Consulte o Blog do Núcleo de Estydos e Pesquisas sobre Direito, Sociedade e Vioilência
BULLYING
AIRAN,
Breno. Estudante vítima de bullying leva a revolta para casa. Diretor diz que
colegas “mexem” com adolescente por ele usar brincos. Tribuna Independente,
Maceió, 25 out. 2011, p. 12.
Mais uma vez a Escola Estadual
Professor Eduardo da Mota Trigueiros, no bairro da Jatiúca, em Maceió, foi palco
de uma polêmica, ontem. Só este ano, segundo a direção, a instituição foi
roubada dez vezes. Desta vez, o prejuízo foi outro. Após
denúncia feita pelos próprios estudantes do colégio, oficiais do
Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc) checaram nas salas se havia uma arma de
fogo no local.
O revólver Taurus calibre 38 com
seis balas roller points (que se espalha quando atinge o alvo) foi encontrado
na bolsa de um aluno. Uma aluna, de 15 anos de idade, irmã do proprietário da
arma, escondeu o objeto na bolsa do estudante, de 14 anos de idade.
Segundo o acusado de levar o
artefato para a escola, um menino de 14 anos, ele pôs a arma em sua bolsa para
“se defender”, afinal, onde mora, próximo à escola, a criminalidade é grande.
O diretor, o professor de Informática
Jeferson Levino da Silva, deu dois possíveis motivos para o estudante ter leva
do a arma. O primeiro é que o aluno teria o ameaçado quando foi suspenso da
escola por ter ido com uma calça que não fazia parte do uniforme. O segundo é
que o garoto, segundo o diretor, vem sendo vítima de bullying por colegas de
sala, por usar brincos. "Chamaram-no de 'viado' e ele falou que ia matar
quem tinha dito isso. Bem, eu não aguento mais ficar nessa escola, diante de
tanta confusão", desabafa.
A mãe do garoto apreendido, no
entanto, afirmou à reportagem da Tribuna Independente que o filho de apenas 14
anos não tem ligação com o mundo das drogas - pelo menos que ela saiba.
"Ele é esforçado. Sabe o duro que eu dou. Só que no momento estou
desempregada. Esses dois não têm pai, um pai presente", diz.
E completa: "Ele realmente
me falou que um amigo estava “arengando”
com ele. Mas ainda não sei como ele arrumou essa arma". Todos foram
ouvidos pela delegada de Menores Infratores, no bairro do Jacintinho, e
liberados, por ser menores.
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