segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

[BANCO DE IMAGEM: CIDADE: MACEIÓ: PARQUE GONÇALVES LEDO] Urbanismo: a cidade de Maceió em imagens 2004




Maceió: Paisagem: Parque Gonçalves Ledo: 2004







O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em campo,  logo após ter sido tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas. As fotos foram tiradas para posterior comparação. Infelizmente perdemos as anotações de visada e coordenadas. Na verdade,  a fotografia está sendo usada para realizar uma espécie de etnografia urbana, tentando captar cenas do cotidiano de diversos pontos de Maceió, além de montar uma série de imagens que na certa ajudarão,  no futuro, a quem desejar estudar a cidade e sua vida.




Parque Gonçalves Ledo (junho, 2004)





Eu andei muito por aqui, quando Tio Lauro morava no Farol. Acho uma área bonita, mas abandonada. As pessoas nao mais desfrutam do parque, apenas passam por ele que pega quase um terço da Ladeira do Brito. A cara do Parque mudou substancialmente.  Ele é um ponto urbano de destaque, mas foi morrendo enquanto parque, na medida em que a urbanização acelerou a vida de Maceió. Toda cidade tem o parque que merece. Acho que ele foi feito para o tempo em que uma pessoa poderia confessar-se com preguiça ou cansado.  



Eu sinto a solidão deste edifício e quanto ele mexe com a integridade da imagem do parque.



Por esta região, aconteceu o primeiro jogo de futebol em Maceió


Há uma espécoe de tristeza nesta coisa.


Ninguém mais para e nem namora



Ninguém mais anda por aqui; é quase uma escada com desdém. Parque Gonçalves Ledo? Ledo engano.


[BANCO DE IMAGEM: CIDADE: MACEIÓ: PRAÇA DEODORO] Luiz Sávio de Almeida. Maceió: a Praça Deodoro em um sábado. Outubro. 2005.



Maceió: Praça Deodoro: Paisagem: Cotidiano: 2004






O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em campo,  logo após ter sido tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas. As fotos foram tiradas para posterior comparação. Infelizmente perdemos as anotações de visada e coordenadas. Na verdade,  a fotografia está sendo usada para realizar uma espécie de etnografia urbana, tentando captar cenas do cotidiano de diversos pontos de Maceió, além de montar uma série de imagens que na certa ajudarão,  no futuro, a quem desejar estudar a cidade e sua vida.








Passei um tempo  procurando  ver um pouco da vida que se transcorria,  entendendo a velha Deodoro como multiplicidade de situações e tentando dialogar com ela. Sabia que era extremamente difícil seguir esta linha, mas desejava documentar o máximo possível, na tentativa de deixar material à disposição de outros pesquisadores. 

Eu me preocupo e muito, em deixar algo que eles possam utilizar, dando cenários da vida de Alagoas e montando este Banco de Imagens que tenta sistematizar uma visão do que seria a vida em Maceió e no Estado em geral. Interessante é que o nome pomposo de Banco de Imagem abriga apenas um encontro entre um olho e uma realidade, a partir da mediação de um tipo de escrita com a luz. 

A magia de deter a imagem é atordoante. Não tenho a preocupação de uma composição artística mas, também, não desejo apenas que haja mecânica de obturador. Quando registro o que vejo, especialmente parando para estar, alguma pergunta ou inquietação – quem sabe o adequado seja estranhamento – deve surgir. 

O grande problema é que estou no cinema mudo e sem mímica: há toda uma representação na foto que depois deve ser ponderada. É quando ela convida ao diálogo,  pede que a gente se demore sobre coisas e pessoas e assim, uma foto gera um infinito de textos. 

Escreva o seu na sua cabeça; deixe sua imaginação  correr pelo tempo. Navegue. O Banco de Imagem é um apelo para navegar.







Tribunal de Justiça

Eu nunca achei este prédio bonito, mas eu sou um tolo, pois ele não foi feito para que eu achasse qualquer coisa. É como se eu fosse um intrometido na arquitetura dos outros.  Ele está amarelo e já teve diversas outras cores.  Às vezes eu penso que um  prédio é uma eterna atualização e, assim, ele não cristaliza uma forma e nem um modo de ser. Na certa eu perdi o senso, como diria o antigo poeta.

Hoje, o prédio me soa (esse me soa é horroroso) como acanhado para ser um Tribunal de Justiça. Teria sido esplendoroso? Na certa, não sei. Gosto dele em fatias; uma fatia de janela, como se fosse uma fatia de bolo; detesto a coluna, mas adoro a porta.







Isso parece uma prateleira. A estátua está sendo proporcional ao que vou chamar de ornatos? A deusa está menor do que seus próprios enfeites? A minha ignorância em arquitetura chega a ser um plural. O idioma pátrio – se é que existe – deveria permitir que eu dissesse sem medo: a minha ignorâncias.




 Teatro Deodoro

O Proclamador da República está sozinho nesta Praça que tem seu nome.  Ele vem das bandas de Anadia. Arranjaram um gesto heroico e ninguém consegue imaginá-lo com o chapéu na cabeça. Este é um dos pequenos desconfortos do herói.  Obrigam a que ele rompa com o "vulgar"  do dia a dia.  A minha ignorâncias é tanta, que acho pouca base para muito cavalo e cavaleiro. Uma estátua obelisco? Lá pelo fundo, o belíssimo Teatro Deodoro. Será que Deodoro gostava de teatro?




É sem dúvida, algo de tirar o chapéu. Belíssimo, mas foi ancorado sobre o veio de uma imensa pobreza. Neste sentido, a beleza chega a ser acinte e ela agride.  Está é a forma pomposa da alta burguesia manifestar-se  em culto ao seu próprio esplendor, contrastando imensamente com o pequeno das casas pobres que faziam este lado da cidade. Um espaço pobre foi nobilitado. Ele nada tem a ver com Maceió, como nada tem a ver o próprio Palácio. O poder os transformou em marcos que são testemunhos de uma burguesia desejando legitimar a sua cara imaginária no meio de um casario baixo, miúdo. Este é um espaço que passa a ter significado urbano ao derredor dos anos 50 do século XIX.

Eu acho lindo o Teatro em preto e branco. 




Acho que é inexorável: toda frente tem um fundo. É como se o predio tenha sido feito para se olhar para a frente. Este prédio nasceu na Levada, uma das mais pobres áreas de Maceió.


A antiga Escola Normal

É também para ser vista fatiada; pelo que pinta na minha cabeça, eu dou mais para ser açougueiro do que para ser arquiteto. Hoje funciona a Academia Alagoana de Letras. Para falar a verdade, prefiro a Escola em preto e branco.

















A Gut-Gut que foi famosa em Maceió

Este é o prédio da famosa Portuguesa. Eu cheguei a tomar cerveja aí. Era um Clube de menor porte aristocrático. O maior era a Fênix. Hoje funciona um bingo. Eu fiquei com a ideia, possivelmente errada de que o Café AFA ficava onde está escrito Maceió. Deve ser falso registro. 




Aqui era a Gut Gut o point. O pessoal vinha de carro tomar sorvete aqui, ficando um verdadeiro corso.





Um lugar para sentar












Um pouco da Praça

Este lado esquerdo da Praça é a Travessa Dias Cabral. Ela cruza a Barão de Maceió, passa na lateral do Teatro de Arena que foi uma obra de Bráulio Leite Júnior. A evidência da Praça era a rua à direita,  desde o início concebida como uma passagem.
















Sobrevivendo na cidade



































[BANCO DE IMAGEM: CIDADE: MACEIÓ: RUA BARÃO DE MACEIÓ] Luiz Sávio de Almeida. Maceió, um sábado de outubro de 2005 na Rua Barão de Maceió

Maceió: Rua Barão de Maceió: Paisagem: Cotidiano: 2004























O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em campo,  logo após ter sido tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas. As fotos foram tiradas para posterior comparação. Infelizmente perdemos as anotações de visada e coordenadas. Na verdade,  a fotografia está sendo usada para realizar uma espécie de etnografia urbana, tentando captar cenas do cotidiano de diversos pontos de Maceió, além de montar uma série de imagens que na certa ajudarão,  no futuro, a quem desejar estudar a cidade e sua vida.






As anotações, desta feita, foram realizadas sobre os entornos da Praça Deodoro.









Esta é a rua Barão de Maceió. Ao fundo, a Igreja de São Benedito e à esquerda, a Secretaria de Educação. O primeiro plano do prédio, foi o Colégio Estadual. A Igreja de São Benedito tem uma curioso cemitério em seus fundos. É um quintal de nada, onde os mortos se apertam. O engraçado é que, por muito tempo, ela costumava receber velórios. Estamos diante de um interessante São Benedito dos Mortos. Ali existia uma Irmandade. Quem fazia ponto no local era um grande amigo meu: Celestino.  Ele era Babalorixá e tinha terreiro no Jacintinho.



Esta foto é extraordinária. É interessante ver o majestoso do Teatro como pano de fundo para uma quase angústia urbana. A carrocinha se imprensa e a  preferência do ônibus é magnifica: ele toma a rua. A rua é do povo? O ciclista quem vem à direita, começa a acautelar-se e um cara, bem lá no fundo parece conversar com o motorista. Haja Maceió nesta foto! Sinto-me perfeitamente em casa.








Manoel Correia de Andrade me dizia que somente havia tido uma amante em toda sua vida: Penedo. Uma cidade pode ser amada, até mesmo pela forma como se faz pecadora. A Secretaria de Educação ocupa o que era o Colégio Estadual. Ela está ao fundo e, em primeiro plano, o ginásio de esportes. O incrível é a linha da pobreza ancorada na calçada, cada qual com seu bagulho, cada bagulho com seu vintém, cada vintém  com seu pão. Mas de tudo de tudo que a foto contém, o que me chamou mesmo a atenção foi a carrocinha pobre e vazia, quase sem dono e absolutamente sem nada.  É um fantasma de vida ou é a ida que não pode existir sem fantasmas?




Para onde vai esta mulher? O preto é de viúva? Ainda se usa o luto ou isso se acabou, com os defuntos sumindo rápido, correndo das solenidades dos vivos?  Ela e a filha com um desconcertante diadema a quebrar a harmonia dos diversos cinzas? O que eu poderia dizer a ela? Que sua cor é bela? O que se pode dizer a uma mulher que anda com a filha? Com certeza, seria possível um bom dia!


Eu estou olhando para a praia; ela não aparece mas existe. Então, numa foto cabe o que não se vê?   Está aí uma cena raríssima: a Barão de Maceió vazia de carros, como se o sábado reconhecesse ser dia de descanso. Note-se o contraste do teatro com seu entorno e a forma dele pedir para que o mundo olhe para ele. Haja sonho para a burguesa tupiniquim do tempo de Euclides Malta.