A semana passada estive na Universidade Federal de Campina Grande para participar de seminário patrocinado pelo Laboratório de Estudos em Movimentos Étnicos e que tratava sobre Indígenas e Quilombolas: Perspectivas Cruzadas. Participei de uma mesa de trabalho sobre História Indígena e tratei do caso de Alagoas, tentando ser necessariamente provocativo para que fôssemos um caso a possibilitar reflexão sobre o Nordeste. Talvez por acaso, atingi o problema, mostrando que o crescimento dos estudos indígenas em Alagoas tem ocorridop or via das ciências sociais e, por outro lado, a historiografia tem se mantidoa pática. Na verdade, comparando as produções nas duas áreas, a historiografiat em sido insignificante.
Quala razão? Difícil de responder. O fato é ue os índios foram retomados em Alagoas pelas ciências sociais, o que ficac laro, desde a redemocratização, ao aparecerem os trabalhos pioneiros de Clóvis Antunes e Vera Calheiros, com o primeiro contendo maior tônica política e as egunda enquadrando-se com maior propriedade na área acadêmica, desde que se doutorou com temática relativa aos Kariri-Xocó do PortoReal do Colégio. A retomada veio acompanhada de acentuada mudança no modo de ver e de encarar os índios. Os estudos anteriores eram determinados pela visão do índio sem posição na correlação de força política, herdeiros que eram das vertentes historiográficas de Caroata e Dias Cabral.
Os estudos posteriores entenderam-se como participantes da própria luta política dos povos indígena sem busca de nova posição, face ao contexto da chamada sociedade nacional. As ciências sociais em Alagoas captaram este momento, mas a historiografia não, o que se deve, talvez, ao perfil ideológico presente nos dois grupos: uma ciência social politicamente avançada e de compromissos com a própria redemoctaização e uma historiografia conservadora, sem maior compromisso com a transformação quese dava, o que transperecia nos momentos políticos internos do CHLA na UFAL. É preciso ter cautela com estas colocações, pois as generalizações podem ser njustas.
Por outro lado, a história cuidou menos de se renovar do que as ciências sociais; a pós-graduação chegou bem mais cedo no âmbito da sociologia, da política, da antropologia. Evidentemente, isto não é determinante, mas interfere significativamente, de modo que se deram dois contextos distintos com relação aos estudos relativos a índios. Uma pessoa fundamental na incorporação do índio ao cotidiano da Universidade foi a professora Sílvia Martins que marcou presença junto aos alunos e mantém um grupo vivo, já tendo encaminhado estudantes para a pós-graduação. Hoje a Universidade conta com pelo menos três grupos ligados aos índios. Cada um contribui e, de certa forma, a Universidade Federalde Alagoas é, possivelmente, a que mais tem produzido sobre o assunto no Nordeste.
Pesam nomes como Clarisse, Sílvia, Siloé, Nascimentoe outros tantos, inclusive, com ampliação para o campo da saúde. No momento, parece-nos alto o interesse da área de Nutrição quanto aos índios, na medida em que trabalha a questão da segurança alimentar. Anteriormente, esta preocupação foi notável na área da medicina, coma contribuição extraordinária da Dra. Rosana Vilela. É que as ciências sociais souberam – ao cresceramno campo indigenista- manter diálogo com outras áreas da universidade, enquanto a história permaneceu enquistada. Há uma esperança: o que vem sendo organizado cientificamente nos campi da UFAL e da UNEAL. Quem sabe conseguirão que a história se engaje? É possível, não resta dúvida.