domingo, 18 de dezembro de 2011

[HISTÓRIA: ECONOMIA: AGRICULTURA: ALAGOAS] Luiz Sávio de Almeida. Conversa em torno de um tema: a agricultura em Alagoas






  18  de Dezembro de 2011


Contém a primeira parte de conversa mantida com membros da Federação da Agricultura e Pecuária de Alagoas





Um pequeno bilhete sobre agricultura


Contexto apresenta hoje, o que chama de Conversa em torno de um tema, basicamente a transcrição de uma conversa amigável entre especialistas. Hoje, traz pessoas da alta direção de uma entidade sindical, para discussão e depoimento sobre mudanças e atualidade em nossa agricultura: trata-se da Federação da Agricultura e Pecuária  de Alagoas.  Temos que agradecer a Álvaro Almeida, Francisco Edilson Maia, Márcio Pinto e Noel Loureiro. Aqui está uma boa contribuição para a análise de nossa pecuária e agricultura. A sua grande importância não está no aprofundamento dos temas, mas por ser capaz de gerar inúmeras interrogações que podem levar a estudos e proposições.

Sávio de Almeida


Conversa em torno de um tema: a agricultura em Alagoas
Luiz Sávio de Almeida


Durante pouco mais de duas horas,  Contexto reuniu dois diretores da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas, um Assessor daquela organização sindical e um ex-Secretário de Planejamento para darem um passeio sobre  agricultura e pecuária no Estado, enfocando mudanças e problemas atuais. Claro que nem arranhamos o problema, mas fica registrado um painel que interessa a todos os que estudam as mudanças acontecidas no Estado e a conjuntura atual.  Contexto supõe que a forma aberta da discussão leva a verificar uma espécie de dilema: ou temos Estado ou não teremos bom futuro para a agricultura. Isto ajuda a colocar em xeque a tese do estado mínimo, na certa ele deve ser mínimo, mas um mínimo de máxima influência.


A discussão recupera a monotonia do açúcar e do não-açúcar e é a ela, efetivamente, que fica reduzido o perfil da agricultura alagoana, ainda incapaz de alavancar alternativas que passem pelos pequenos produtores, capacitando à renda. Às vezes, enquanto a conversa decorria, eu me pegava pensando se a pequena agricultura em Alagoas não era matéria de um mero e desgastado discurso sobre a conveniência de termos os pequenos, que simbolizamos em nossa insistência sobre o feijão, o milho, o arroz. Um pequeno que parece estabilizando-se perante uma pecuária leiteira, mas absolutamente sem lastro de garantia de efetividade de seus negócios, posto dentro de uma ideia genérica de agronegócio como se a ele obrigatoriamente fosse dada a responsabilidade de assumir a lógica sistêmica de operações produtivas, mas sem ter poder, no que se demanda uma revisão que passe pela economia política, ou, em outras palavras, pela questão da economia associada à do poder.

É uma agricultura que fora do mundo do açúcar é dada praticamente como impotente perante, pelo menos, três grandes elementos: o primeiro é a falta de investigação e de transferência de tecnologia; o segundo é a inexistência de uma ordem logística para alavancar a produção;  e, finalmente, a integração produtiva. Existe cana de açúcar, mas o que é feito com o universo da pequena produção?   Parece que o Estado de Alagoas acha conveniente o seu Leste e muito pouco soube fazer sobre seu Oeste e mesmo sobre o seu Sul, entendido especialmente para os lados do Baixo São Francisco. De toda a conversa, fica um vazio de Estado como a grande evidência e isto indica a continuidade da história de nosso agrarismo:  os fatores de capital ainda não se atualizaram em nossa ruralidade e mesmo os que se atualizaram passam por cima da chamada pequena agricultura.

A retórica parece ultrapassar, de muito, as conseqüências das intervenções realizadas, não importando a intenção de fazer; não é de uma hora para outra, que se faz uma revisão na estrutura agrária e ela não pode começar de fato,  sem o propósito efetivo de uma reforma agrária, com, talvez, a principal mudança acontecendo na própria estrutura fundiária. Não existindo mudança estrutural, todas as inovações tendem à mera categoria de justaposição do novo sobre o velho, não ingressando no cotidiano da produção e sendo paulatinamente carcomidas pelo arcaico, onde se encontra o poder de mando.  

A utilização de elementos como novo e arcaico como ferramentas de análise, não  nos leva a uma tese de dualidade estrutural, mas à ênfase ao processo de superação, único local onde a  mudança pode ser logicamente posta. O desenvolvimento não se faz com a justaposição, mas com a integração e ele passa por uma mudança, também, no perfil do próprio poder ainda de marca acentuadamente estamental. Na verdade, ou Alagoas supera as instâncias de mando do poder local, ou não se atualiza, inclusive na agricultura, uma forma de se perceber que a agricultura não pode ser pensada como espécie de um em si,  como algo isolado, mas posta no conjunto de providências articuladas dentro de um escopo de revisão estrutural a ser operada pelo planejamento.
                                                                
portaldoagronegocio.com.b
Os fatores a que chamaremos de capital devem se estender o máximo possível, beneficiando e integrando toda a estrutura produtiva e não maximizarem a forma de concentração da renda no meio rural, modo típico de resultado da justaposição. A hipótese – que pode prosperar ao ser examinada em seus detalhes – é que a desconcentração de renda deva ser matéria enfaticamente conduzida pelo Estado  e sobremodo estruturar formas cooperativas, dar senso de coletividade às suas propostas de intervenção e mudança na ordem da produção. Por outro lado, cuidar para que a  ideia de agronegócio não seja e nem deva ser a de meramente organizar um sistema verticalizante, mas de natureza horizontal onde os links fortaleçam os laços cooperativos.

 É preciso debater e encontrar o modo e a forma dos laços cooperativos se estruturarem, comporem e recomporem  um sistema de natureza atomista transformando-o em sistema de natureza orgânica, integrado pela articulação de interesses e onde a renda se reparta ao invés de concentrar-se. Não estamos, aqui, a supor uma igualdade, mas uma equidade. Aí sim, acontecerá mudança, pela recomposição do clássico modo de ser do agrarismo alagoano. Quem sabe, fugindo da verticalização ele consiga, evidentemente, gerar fatores novos, recompor o campo e a área livre para isto ainda se encontra, por exemplo,  nas que concentram pequenos produtores de cana ou em todo espaço a Oeste, recompondo o  econômico de Alagoas, especialmente passando pelo Baixo São Francisco e no agreste e no sertão.  O capital na agricultura alagoana é um grande devedor do agreste e do sertão e isto transparece em toda a conversa que foi mantida, pelo menos a nosso ver. A não ser, que se adote a tese de que é perda de tempo pensar no Oeste do Estado, ou, numa linguagem mais tosca, que se lixem. Pensamento, sem dúvida, de má índole democrática e a subsidiar a ideia trágica da montagem de uma fábrica para fazer salsicha de  pobres.

A atividade de base do Estado para recompor uma agricultura e uma pecuária  alagoanas  passa pelo  agreste e pelo sertão, áreas sempre marginalizadas e jogadas para a posição de um secundário econômico, face, especialmente à queda do algodão e à manutenção do prestígio político do leste açucareiro. Esta “dualidade” alagoana entre Leste e Oeste tem que ser esclarecida e recomposta com urgência;  neste sentido, o sertão e o agreste têm que demonstrar, efetivamente, peso de pressão política e, neste contexto, primar pela busca de  iniciativas de fórmulas cooperativas para que se distribuam os resultados e não que sejam concentrados, gerando a idéia de uma afluência  que é apenas aparente, pois não mexe na estrutura de produção. Agreste e sertão têm que se transformar em categoria política de peso e isto requer, novamente é preciso ser dito,  o senso da demonstração pública de força com relação ao Estado. Agreste e sertão devem se levantar, buscarem união de pleitos, estabelecerem  a sua própria inteligência orgânica, passar por cima do arcaico das formas de poder, superá-las para ter avanço, inclusive, econômico.

Durante a conversa, o papel de Contexto foi provocar, instigar, propor temas, fomentar a discussão. Contexto não afirma durante a conversa, apenas pergunta para estimular as posições. A função de Contexto é traçar um grande painel  sobre Alagoas.  Foi para isto que a Tribuna Independente o criou: deixar um legado para a visão de nossa atualidade e, com isto, subsidiar algo fundamental que é discutir  Alagoas. Não é possível passar por esta discussão sem tocar no vetusto setor primário da economia.

Contexto gerou este documento para o estudo de Alagoas. Difícil deixar de se considerar o que foi dito durante a conversa, tanto agora, quanto no futuro. Contexto  sabe que é uma contribuição para uma sociologia rural, mormente nos aportes sobre mudança e tem a certeza plena de que no futuro, este material será de leitura obrigatória, especialmente na categoria da análise do poder no que diz respeito às relações internas e externas das atividades econômicas ligadas à agricultura.

Álvaro, Sávio, Noel, Edilson, Márcio
O documento  guarda um eixo central e sua fragmentação é aparente. A coluna dorsal dos problemas da agricultura alagoana está disposta,  impressionando ver a continuidade do discurso modernizante e a persistência do retardamento estrutural, o que afeta sobremodo ao pequeno e médio produtor. O grande produtor tem condições para  pontuar seu próprio caminho, como ficou  demonstrado pela posição assentada sobre o açúcar em nossa discussão,  bem como sobre o percurso de uma genética que recupera – não se sabe o quanto –  aquilo que aconteceu com as matrizes que nos deram uma famosa bacia leiteira.  Contexto ficou em dúvida: pode efetivamente ter acontecido uma renovação genética na pecuária de Alagoas ou ela se localiza nos altos estratos da produção? Até  que ponto ela chega para os pequenos produtores, se é que pode chegar? Chegar como?


Contexto agradece a Márcio Pinto que ajudou na montagem desta conversa e, especialmente, agradece ao Presidente Álvaro Almeida e ao Vice-Presidente Francisco Edilson Maia, da Federação da Agricultura do Estado de Alagoas que nos deram atenção privilegiada, bem como ao Assessor da entidade, Noel Loureiro  Foi um diálogo franco, aberto, e portanto valioso. Este é um primeiro trabalho de Contexto na linha a que vamos chamar Conversa em torno de  um tema. É extremamente salutar quando se dialoga na presença pública e a Federação  nos dá um exemplo, ao aceitar este papo tranquilo e, ao mesmo tempo, forte. Nosso reconhecimento pela fidalguia e inteligência do diálogo.





Conversa em torno de um tema: agricultura alagoana (I)


Avanço tecnológico e produtividade


Álvaro

ÁLVARO


Foram vários os avanços tecnológicos, comparando com os tempos de meu pai. Naquela época você criava numa área extensa, sem qualquer tecnologia. Então, um boi aumentava 2, 3 arrobas no ano. Quando comecei, a média do meu gado de abate era 8, 9 arrobas por cabeça, as fêmeas, um pouco mais os machos. Hoje são, em média, 14, 15 arrobas em Mar Vermelho. Você conseguia com muita dificuldade, quando o gado era muito bom, um aumento de 3 a 4 arrobas ao ano, por cabeça. Hoje se consegue muito mais. Você consegue apartar um bezerro hoje com 7, 8 e, algumas vezes, até 9 (,10) arrobas, bezerro com 7, 8 meses de idade. Você não se preocupava com a vermifugação;  não tinha  orientação técnica. Hoje, quase todas as fazendas têm  veterinário ou  assessoria de técnico agrícola. Então isso é evolução. Você está produzindo mais, tendo produtividade  maior, inclusive com áreas menores.

Melhoria genética

ÁLVARO


A melhoria do pasto vem de uns 40 a 45 anos. Foi evolução natural;  preocupação  com a produção, produtividade  maior, com área menor. A vermifugação, sal, melhorar as matrizes.... E fazer a inseminação artificial melhorou a raça. Hoje  nós temos Nelore que (não) faz inveja. Tem-se uma genética muito boa em Alagoas. Nós tínhamos uma grande evolução já na época da famosa bacia leiteira, instalada em Mata Grande e conhecida em todo o país.  Depois retrocedeu, ao ponto do Geraldo Sampaio ter dito: “Naquela época nós tínhamos uma bacia leiteira, hoje temos um pires de leite”. Mas a culpa foi do governo, que deixou Alagoas acabar com a bacia leiteira. As nossas vacas, naquela época, foram compradas pelo Rio Grande do Norte, Ceará, as grandes matrizes... Mas ainda  temos gado de leite de excelente qualidade.

A bacia leiteira

ÁLVARO


Era conhecida nacionalmente, a nossa bacia leiteira;  fomos referência nacional. Mas hoje, sentimos que com esse programa do leite, tem sido crescente o desenvolvimento da bacia leiteira. Inclusive, para não perder o fio da meada, mantendo esse preço, que, se não é uma excelência, é dentro da normalidade da atividade, haverá continuidade.  Nós ficávamos presos a dois ou três compradores e era um cartel. Hoje esse programa estimulou a atividade e ela está se recuperando.


O fim do curraleiro e a manha do boi

                                                                                                                     sandrodosertao.blogspot.com
NOEL: 


Você tem que levar em consideração o seguinte: o boi era menor... Inclusive um dos motivos) por que o aumento do índice de produtividade na pecuária (demanda dos movimentos sociais) é inócuo como forma de se coletar mais terra para a Reforma Agrária é que se  tem que  levar em conta que o boi de abate de antigamente levava 4 anos para chegar a 12, 13 arrobas. Hoje o boi leva 2 anos e  atinge 17 a 18 arrobas. Então a quantidade de pastagem que ele absorve é maior, ele precisa de mais área. Então se você for por essa linha de produtividade, você vai ter que aumentar a quantidade de área por animal, porque o animal come  mais pastagem.

ÁLVARO:


 O boi não era assistido, é verdade. Você criava como se criava antigamente o porco. Você já imaginava: o porco só se dava bem no sujo. Hoje a gente vê o contrário. A pocilga é a coisa mais limpa que tem na sua fazenda. Os dejetos descem por gravidade. Então quanto mais limpeza, mais saúde o animal tem. O boi curraleiro desapareceu. No Maranhão, naqueles lugares mais atrasados no Maranhão você ainda encontra, mas aqui em Alagoas não existe mais.

NOEL:


Agora, esse negócio que seu sogro falou, Sávio, que o boi ficou manhoso, você tem que levar em consideração o seguinte: à medida que o nosso gado ‘Nelorizou-se’, o boi Nelore exige trato. Se você pegar um boi Nelore, jogá-lo a pasto , deixá-lo para lá, você só o pega “na bala”, porque se transforma numa fera.

ÁLVARO


Você entrava no curral, ficava louco com medo do Nelore. Hoje, você vai, alisa. Está domesticado pelas vezes que vai ao curral, com o manejo. A gente não tocava numa vaca. A vaca, às vezes, às vezes não... ela morria de parto, porque ninguém sabia fazer nada. Você não salvava um bezerro. Hoje o camarada faz um parto, faz transferência de embrião, faz inseminação, tem ultrassom. Hoje um bezerro, uma égua, o veterinário diz: é fêmea, é macho. Essa é a grande evolução. Hoje tem-se sêmen sexado. Você ficava louco para tirar o leite de uma vaca de primeira cria. Hoje você pega uma de primeira cria, bota na máquina, na ordenhadeira, ela parece uma coisa mansa. Você vai lá, alisa...

Tecnologia e rentabilidade

SÁVIO


Mas agora eu lhe faço uma pergunta, que pra mim é essencial? Toda essa tecnologia afetou o que na rentabilidade?

ÁLVARO


Eu acho que meu pai tinha menos obrigações, mas ele teve menos rentabilidade, muito menos rentabilidade.

NOEL:


Antigamente um cara com 150, 200 rêses era um homem rico.   E hoje com 150, 200 não tem dinheiro pra comprar uma moto.

ÁLVARO: 


Esse é o problema do sertão.

MÁRCIO: 


Antigamente, o meu pai com a propriedade que tinha,  era dito como rico. Hoje quem possui nas mesmas dimensões é um pequeno...

ÁLVARO: Você mantinha família na capital.

NOEL: 


Você deve levar em consideração que houve uma mudança no perfil dos gastos. A gente não tinha internet, não tinha ar condicionado, não tinha 3, 4 carros, etc. 

A estrada e a modernização dos lados do Mar Vermelho
                                                                                                 

                                                                                                maltanet.com.br
Matriz de Mar Vermelho

ÁLVARO:


 Nós não tínhamos acesso para Mar Vermelho.  Passamos 50 anos atrás de uma estrada, não era nem de asfalto, a gente queria uma coisa aberta e nós não conseguimos. Viemos conseguir agora há 8 anos atrás. Aí Sávio, você  pode perguntar: E por que não evoluiu nesses 8 anos? Eu acredito que ainda não evoluiu porque ainda não se destinou a instalar uma empresa, um hotel, o turismo ser mais levado para Mar Vermelho. Mar Vermelho muda quando aparecer alguém de visão pra aproveitar o turismo, que nós temos essas praias belíssimas mas não temos o turismo dos morros, das pessoas que gostam das fazendas, o turismo rural... Mar Vermelho, não tenha dúvida, vai embora, porque nós temos o melhor clima do estado de Alagoas.




Da propriedade para o Estado

SÁVIO


Quando você discutiu essa transformação que aconteceu na sua propriedade, você generalizaria isso para o estado todo? Com relação a genética, a produtividade...

ÁLVARO


Não tenha a menor dúvida.  Mar Vermelho é interessante. (Ele) Até a cidade de Mar Vermelho, a gente pode dizer que é verdadeira zona da mata. Quando você sai da cidade, (ele) já vai ficando “agrestado”. A gente chama esse termo agrestado, quando você vai em direção a Palmeira dos Índios.

SÁVIO:  


Por que continua a tradição de gado ali?

ÁLVARO


É fácil responder. É por causa da nossa topografia.  Eu posso dar uma estimativa assim talvez 80%, 85% da topografia de Mar Vermelho, ela é toda acidentada.

Problemas de renda e força de trabalho

Álvaro, Sávio, Noel, Edilson, Márcio

SÁVIO: 


Nesses 50 anos da sua vida dedicados à agricultura e pensando no conjunto de Alagoas, diga: “Olhe, o principal fator de mudança na pecuária foi esse!”. E a melhor coisa que aconteceu na agricultura foi isso!

ÁLVARO


Você começou a ter mais tratos culturais, novas variedades de capim e a preocupação com a genética e com a qualidade... Então na pecuária vejo, que foram os tratos culturais. A extensão naturalmente elas foram passando a  pequenas propriedades, até mesmo natural, uma reforma agrária natural até dentro da própria família. Vamos dizer assim, você tem uma propriedade de 1000 hectares, 5 filhos... Hoje cada um tem 200 hectares. Então você começou a se preocupar com a qualidade da sua pastagem, aplicar tecnologia.

A pecuária  leiteira

EDILSON: 


Não só a sociedade brasileira como o mundo todo,  começou a se preocupar com o produto de origem animal, a sua forma de abate, a sua forma de criação, seu tratamento com os animais e isso levou a um avanço qualitativo. É a lei da competitividade. Então isso tudo foi juntando. Por que limpar as pastagens? Limpar as pastagens porque precisa dar maior capacidade de apascentamento. Por quê? Porque as terras ficaram mais caras e mais difíceis. Você começou a ter maior rendimento de quilos de carne por hectare.  Então isso hoje é muito forte na sociedade, a forma de tratamento que você está dando ao animal, desde o nascimento até o abate.

SÁVIO: 


Esse raciocínio de vocês com a pecuária é aplicado ao pequeno produtor ou  ao grande produtor?

ÁLVARO:


O pequeno produtor hoje, já está tendo essa preocupação,  inclusive o que chama de economia familiar, ou de agricultura familiar. Isso não uma coisa só do médio e do grande. Tem pequenos produtores de leite  produzindo mais do que os grandes produtores. Uma vaquinha dele está produzindo muito mais do que a vaca daquele que tem 100, 200 vacas.

SÁVIO: 


E o leite dá dinheiro?

ÁLVARO: 


Leite hoje é uma dificuldade muito grande. Ou você tem uma dedicação exclusiva, ou usa uma tecnologia muito grande, ou se preocupa com o custo, ou faz conta ou você está perdendo dinheiro. Para você ter uma ideia, agora nós temos um programa Balde Cheio inserido pelo SEBRAE, pelo SENAR e pelo governo do estado e tinha um cidadão que quando começou o programa, fizeram o custo dele e ele estava tendo um prejuízo de 135 reais/mês. Ele agora está tendo uma receita R$1050,00, R$1057,00/mês. Mudou o seguinte: a quantidade da terra dele não aumentou, as vacas dele não aumentaram; só o manejo, a tecnologia e a assistência técnica. Ele hoje tem  lucro.

SÁVIO:


 Mas generalizando, onde está a grande rentabilidade do gado, no leite ou no corte?

NOEL:


 No leite se fatura mais, importante para quem tem áreas pequenas...

SÁVIO: 


Então tem essa distinção?

ÁLVARO: 


Ele tem dinheiro toda semana, ele tem dinheiro toda semana.

EDILSON: 


Se você fizer a conta, ele tem liquidez diariamente, a vantagem do leite na minha visão é que o produtor tem liquidez diariamente. É uma atividade que exige competência, conhecimento, dedicação e uma base alimentar muito forte.

E o Estado, por onde anda?

SÁVIO: 


E o que significa hoje o Estado de Alagoas para o pecuarista e para o fazendeiro? E para o agricultor?

ÁLVARO: Olhe, nesse espaço de tempo que nós estamos à frente da Federação, eu acho que há uma preocupação muito grande do governo em restabelecer a produção, em dar assistência maior aos menores e tem tido uma atenção muito grande ao segmento. A não ser que eu esteja enganado, hoje nós somos ouvidos pelos diversos níveis de autoridades do estado de Alagoas.

SÁVIO: 


Quando isso começou?

ÁLVARO: 


Não posso ser ingrato com o ex-governador Ronaldo Lessa. Nós tivemos alguns avanços na sua época, mas talvez ele não tivesse na sua assessoria mais próxima, uma visão mais voltada para o meio rural, para a importância do agronegócio. Então veja, nós tivemos o programa do leite, foi no governo do Ronaldo Lessa, mas no atual nós tivemos uma atenção muito grande.

SÁVIO:


 Explica o que é ADEAL?

ÁLVARO:


É a nossa agência de defesa animal, que cuida de aftosa.  Aftosa só não, cuida da defesa animal de modo geral. O  Estado de Alagoas hoje, na nossa visão, assumiu os compromissos e tem cumprido com  o setor nos diversos segmentos.

SÁVIO:


 O que é que falta?

ÁLVARO: 


Nós queremos avançar no processo da febre aftosa, que ainda precisa de umas ações. Nós precisamos que a assistência técnica...

EDILSON: 


A EMATER volte.

[BANCO DE IMAGEM: CIDADE: MACEIÓ: RUA MOREIRA E SILVA] Luiz Sávio de Almeida . Maceió: cenas da Moreira Lima. Sábado. Outubro, 2005


Maceió: Cotidiano: Rua Moreira e Silva: 2004



O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em campo,  logo após ter sido tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas. 
As fotos foram tiradas para posterior comparação. Infelizmente perdemos as anotaçõs de visada e coordenadas. Na verdade,  a fotografia está sendo usada para realizar uma espécie de etnografia urbana, tentando captar cenas do cotidiano de diversos pontos de Maceió, além de montar uma série de imagens que na certa ajudarão,  no futuro, a quem desejar estudar a cidade e sua vida.











A rua se transformou em um imenso espaço de tudo e de nada. Acho que alguns já estão arrumando a carga. Quem desejar ver o passado nesta foto, olhe para cima e terá a sensação de como a cidade poderia ser linda, não fosse o modernoso que a invadiu. Para sentir, basta deslocar a vista para o lado esquerdo. Mas eu então fico perguntando sobre o que poderia ser considerado como a arqueologia da rua, como se tivesse o tempo soterrado em cima e deixasse o novo aberto embaixo. Parece que estou nas mãos de um tipo inusitado de Hermes Trimegistrus. O tempo da Maceió é a Maceió do tempo; isto leva a uma igualdade? É tão linear assim, aquilo que acontece nesta foto? Dá o que pensar!  Não resta dúvida.





Muitas bundas. Bundas novas, bundas velhas às vistas de São Caetano. Um historiador apresado no futuro, vendo esta foto, diria que o povo de Maceió somente tinha costas e 6/8 habitantes eram do sexo feminino.  Para onde vão os do lado esquerdo e o que estão vendo os do centro? De onde vem a roupa à direita, das bandas de Caruaru? Esqueceram o número do telefone? Quantas dúvidas a realidade lança, joga; quem sabe bem mais do  que brotam do imaginário?





A rua é impudica. Eu mesmo fiquei imaginando os enchimentos do sutiã pendurado.  Ela era baixinha e não poderia ter mais do que 1,50 m. Basta ver a distância do sutiã azul  para os seios da mulher que usa camiseta verde. A de verde não está com; bem que poderia comprar ao vendedor fantasma. Só dá mulher andando e praticamente os homens estão preguiçando. 





Um oásis e a devastação das fachadas. O comércio de Maceió decretou-se como a solenização nacional da feiura . A fotografia olha para os lados do Mercado Público e acho que naquele casão ao fundo funcionou as Casas Pernambucanas. Isso era lindo, modesto porém decente. Aqui, até a parte de cima caparam. Ai que saudades que eu tenho da aurora de minha vida...













[BANCO DE IMAGEM: CIDADE: MACEIÓ: PRAÇA DO PIRULITO] Luiz Sávio de Almeida. Maceió: o mercado e cercania em outubro de 2005.

O texto sobre as fotografias está da forma como foi redigido em campo,  logo após ter sido tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas.



Maceió: Cotidiano: Praça do Pirulito: 2004




Na verdade,  a fotografia está sendo usada para realizar uma espécie de etnografia urbana, tentando captar cenas do cotidiano de diversos pontos de Maceió, além de montar uma série de imagens que na certa ajudarão no futuro, a quem desejar estudar a cidade e sua vida.

Cenas do parque Rodolfo Lins
































Ligação do Parque Rodolfo Lins com a Santa Maria






Uma das entradas para o complexo do Mercado



Lados da rua Formosa























 Uma das ruas que circundam o Mercado