domingo, 3 de junho de 2012

[Arte: Fotografia: Vídeo] Flávia Cerullo e Alice Jardim. Maceió DOBRA, (des)dobra e se multiplica














ALICE JARDIM é realizadora audiovisual, fotógrafa, designer gráfica, cineclubista e arquiteta urbanista graduada pela Universidade Federal de Alagoas (2007). Integra o coletivo de experimentação  audiovisual Tela Tudo e a equipe executiva da organização não governamental Ideário. Também atua no Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem (UFAL), como coordenadora do núcleo audiovisual do Laboratório de Criação Taba-êtê (UFAL). É membro da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas de Alagoas (ABD&C/AL).

 Foi diretora geral e de fotografia de vídeos de ficção, documentais e experimentais. Recebeu uma menção honrosa pelo vídeo experimental “Em Obra” (2010), na 2ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano (2011). Seu vídeo experimental “Todavia” (2011) foi premiado com o 1º lugar na Mostra Competitiva Nacional do Festival Arte.Mov 2012, em Belo Horizonte, e foi exibido no festival Hong Kong International Mobile Film Awards – HKIMFA. Seu outro vídeo, "Tempo"(2010), também foi finalista na  6ª edição do Festival Arte.Mov, recebendo do festival menção honrosa.

 DOBRA
Maria Angélica da Silva, Curadora da Exposição


Nas fotografias e vídeos que compõem esta exposição há um jogo de mostra e esconde.

Cabe uma escolha. Será importante encontrar o motivo, o lugar, o artifício que gerou a imagem ou a própria imagem?

Maceió ou Hong Kong? É preciso desvelar os enigmas de Alice? É preciso descobrir qual parte da cidade foi fotografada ou deixar o olhar livre, brincando de adivinhar?

A noite expulsa de Maceió o que lhe são os atributos mais recorrentes: mar e sol.

Se a cidade está ali, nas imagens, construímos então uma cidade que não é apenas natureza luminosa.

Pois o que vemos está mais perto da escuridão muda dos glaciares, do noturno das superfícies abissais.  Mesmo se a cidade é recomposta em elementos do cotidiano, o ponteado destes elementos paralisam-se em formas que lembram faíscas na pedra. Raios a laser compõem um outro céu de noites falsamente estreladas.

E assim, entre um movimento e outro, uma dobra e outra, permanece uma pergunta. Afinal, qual é a verdade do olhar?  Todos nós vemos igualmente? Quando é que os olhos acertam?

Ou tudo é apenas ilusão?







 SOB O OLHAR DE ALICE           
Geysa Brayner, Diretora da Pinacoteca da UFAL


Cidade, fluxos intermitentes, transformação...   
      
Paisagem, decomposição e recomposição incessante...  

            
Luz e cor, jogo de imagens, de histórias, de memórias, 

de novas paisagens... 
                         
 Infinitos fragmentos que dão alma a um novo cenário... 

Isso é DOBRA, 

que traduz o olhar sensível, a percepção aguçada, a 

inquietude de quem busca. Isso é Alice Jardim, que nos

 faz descobrir a cidade que se (des)DOBRA em tantas 

outras e nos leva a (re)CONSTRUIR, pedaço a pedaço 

– como fazia Kublai Khan com as descrições de Marco 

Polo (Ítalo Calvino) - a cidade que descreve. É com 

enorme satisfação que a Pinacoteca da Universidade 

Federal de Alagoas recebe a exposição DOBRA da 

arquiteta e fotógrafa Alice Jardim, na pauta do ano de 

2012.



                                    

DOBRA


Foto. Christina Jartdim


Pinacoteca Universitária
Espaço Cultural Universitário Salomão de Barros Lima
Praça Visconde de Sinimbu, 206 - Centro
Maceió, Alagoas
CEP – 57020-720 Fone: 82-3221-7230
www. ufal.br/pinacoteca
Curadoria: Maria Angélica da  Silva
Visitação: 18 de maio a 29 de junho de 2012
Horários de visitação:
2ª, 4ª e 6ª - 8h30 às 12h30 | 14 às 18h
3ª e 5ª - 8h30 às 12h30 | 14 às 20h

DOBRA, de Alice Jardim

Curadoria:
Maria Angélica da Silva

Montagem:
Alice Jardim
Flávia Cerullo

Design Gráfico:
Alice Jardim
Nataska Conrado

Apoio:
Tela Tudo Clube de Cinema




Maceió DOBRA, (des)dobra e se multiplica

Flávia Cerullo e Alice Jardim






Flávia Ceruullo. Foto: Juliana Pessoa
A velocidade presente na contemporaneidade faz com que o acesso seja rápido e a experiência seja momentânea. Como consequência, a paisagem urbana passa a ser produto de um instantâneo, acompanhando o ritmo frenético da sociedade e transformando as relações entre o homem e o seu espaço. Nesse sentido, a questão dos fluxos e movimentos urbanos é posta em discussão em DOBRA, na medida em que, de certa forma, ela dita comportamentos na cidade.

O material desta exposição surge a partir de uma inquietação pessoal de reflexão incansável sobre o fenômeno urbano. Ele tem como fundamentos questões vindas da nossa formação em arquitetura e urbanismo, aliada à nossa participação no Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem (FAU/UFAL), a partir da investigação da urbe brasileira, levando em conta manifestações arquitetônicas e urbanas,  considerando  os elementos materiais e imateriais da cultura. Individualmente, nas expressões artísticas audiovisuais, debruço-me sobre o tema do espaço quando qualificado esteticamente, ou seja, quando existe enquanto paisagem, investigando seu cotidiano e as transformações contemporâneas.

Vivenciar o dia a dia da cidade,  nem sempre nos permite perceber as transformações de sua paisagem. Muitas vezes precisamos nos deslocar do espaço em que vivemos para vislumbrar essas mudanças.

Do  alto, a cidade se revela como território a ser explorado. DOBRA permite uma reflexão da cidade a partir de seus fluxos. Para isso, propõe a criação de cenários urbanos imaginários, mostrando-nos uma cidade observada como um jogo de reprodução de luz.

Apresentando um movimento vital e intrínseco ao fenômeno urbano, a dobra surge da quadruplicação de uma mesma imagem compondo novas imagens, que nos apresenta novos espaços e novas temporalidades. Aceleração ou desaceleração dos fluxos? Questiona-se ao espectador que alimenta essa dinâmica.

A cidade é apresentada a partir das dobras que poderiam não acabar naquele espaço delimitado, ficando uma impressão de que poderiam ser continuamente redobradas, ao infinito. Podemos, nesse momento, conversar com a história da arte e nos remeter ao barroco e sua intenção ilusória, na criação de cenários, cujo traço, segundo Deleuze é a dobra que vai ao infinito e onde a desdobra segue uma dobra até a outra dobra.

Dentro dessas reflexões, o cenário criado, ou recriado, em DOBRA é a cidade de Maceió. Deslocando-se do ponto do observador usual, observa-se a cidade e suas transformações. Maceió dobra, desdobra e se multiplica. Apresenta-se em composições geométricas e mostra o seu senso de urbanidade, igualando-se a uma imagem de metrópole.

As composições delineiam a cidade a partir das luzes;  são ilusões montadas com imagens reais. Como o universo e suas constelações, a cidade também se mostra como organismo vivo. A cada movimento surgem combinações variadas, onde a proposta é a abstração dos elementos da cidade apresentados pelo imaginário artístico.

DOBRA constrói um olhar inusitado sobre a cidade de Maceió, demarcando os fluxos e seu traçado urbano através de suas luzes. Estão expostas 10 fotomontagens impressas em diferentes tamanhos em papel fotográfico e 3 vídeos, sendo dois exibidos em televisões no salão 1  e o outro em uma projeção no salão 2.

A longa exposição da captura deu o tom das cores às fotomontagens. A única edição existente  é o espelhamento da imagem, dando uma ilusão caledoscópica, segundo o conceito de quadruplicação explicado anteriormente. Reforçamos que não há trabalho de regulagem de cor na pós produção.

No caso das fotografias, foi feita uma curadoria no material existente, pois entende-se a necessidade do distanciamento do espectador na observação das imagens, tanto pelas formas obtidas com a quadruplicação, quanto pela expressividade estética das luzes representadas e a riqueza dos elementos presentes na composição. Todas as fotomontagens são de 2010 e os vídeos são de 2011.

Dois dos três vídeos também trabalham a composição em luzes do fluxo da cidade, porém destacam o movimento e a sincronia com a música. Inspirados pelo trânsito, eles tiveram o desfoque e composição de cores trabalhados ainda no momento de captura. Na pós-produção as imagens são rebatidas e o som escolhido cuidadosamente para compor com o ritmo das imagens. O terceiro intitula-se Todavia e foi elaborado a partir de discussões no Laboratório de Criação Taba-êtê,  integrante do grupo  Estudos da Paisagem, também da FAU/UFAL. Ele foi premiado com o 1º lugar na  Mostra Competitiva Nacional do Festival Vivo Arte.Mov, 2012, acontecido em Belo Horizonte no final de abril. Foi exibido no Festival Hong Kong International Mobile Film Awards (HKIMFA)

Os movimentos contínuo e descontínuo envolvem simultaneamente tempo e espaço. A composição das imagens, interagindo com uma trilha sonora musical, produz um ritmo próprio, estimulando uma experiência sensorial. Há um gradativo de abstração nas expressões audiovisuais. Pretende-se proporcionar ao espectador experiências distintas em relação a proporção e qualidade da imagem, por isso, optou-se por expor dois em televisões, os primeiros da série, que podem ser mais diretamente relacionado às fotografias, e um, em projeção maior e em sala separada.





                        

[História do Futebol] Lautheney Perdigão. . DEPOIMENTO PARA A HISTÓRIA: Eduardo Bezerra Montenegro – Dudu







PERDIGÃO, Lautheney. DEPOIMENTO PARA A HISTÓRIA: Eduardo Bezerra Montenegro – Dudu. Tribuna Independente. Maceió, 03 jun 2012, Contexto. 

Um pequeno bilhete sobre futebol

Lauthenay Perdigão traz uma nova contribuição para a história do futebol alagoano, com este material sobre Dudu. Ele tem sido um colaborador incansável. Contexto agradece e ao mesmo tempo chama atenção para a importância do Museu dos Esportes.  Lauthenay é o responsável por um grande acervo de informações e material sobre nosso futebol;  merece ser elogiado e reconhecido por todos nós. Tudo se deve à sua determinação e disciplina ao longo de anos; ele jogou futebol, foi jornalista, radialista e um homem apaixonado por um Museu que criou e está aí, prestando serviços sem grandes ajudas do poder público ou da iniciativa privada. Contexto sente orgulho ao poder estar com ele vez em quando, trazendo  depoimentos que foram coletados sobre pessoas que marcaram nosso futebol.

Sávio de Almeida



Lautheney  (esquerda) e Dudu


DEPOIMENTO PARA A HISTÓRIA: Eduardo Bezerra Montenegro – Dudu 

Lautheney Perdigão         
                        

 Eduardo Bezerra Montenegro nasceu no dia 22 de setembro de 1924, na Rua Guedes Gondim, 224. Sendo o caçula da família, Dudu era diferente dos demais irmãos. Sua infância foi relativamente fácil, e quase sem nenhuma preocupação. Com isso, procurava se divertir o máximo possível. No seu tempo de garoto, nunca foi matriculado em qualquer Colégio. Assim, não fez nem o curso primário. Porém, não deixou de estudar. Seus pais o entregaram a um professor particular. Dudu nunca esqueceu o nome do seu bom mestre: professor Veras.

Foi na Rua Santa Maria que apareceu um futuro craque de bola. No começo ele era o dono da bola. Já aos sete anos, Dudu mostrava o seu espírito de liderança. Mandava no time e ficava de fora. O tempo foi passando e ele se apaixonou pela posição de goleiro. Sempre jogou no gol, posição que para Dudu era fácil, apesar da grande responsabilidade. Ele sabia que, para vencer como goleiro, precisava de habilidade e sorte. Aos dezessete anos de idade, Eduardo ingressava no Andaray, clube que disputava a segunda divisão do Campeonato Alagoano. Corria o ano de 1941 e Dudu era reserva do segundo time. Esperou pela grande oportunidade que não demorou. Um ano depois já era titular substituindo Tonho. Nesse mesmo ano, apareceu como a grata revelação da temporada. Os jogos do campeonato da segunda divisão eram  disputados no campo do Vergel do Lago que era famoso pelas muitas partidas disputadas e o número de torcedores presentes. O time do Andaray era muito bom e tinha em seu plantel jogadores como Mercí, Roberto, George, Nivaldo Yang Tay, Alziro e outros.

Em 1943, Dudu brigou com dirigentes do Andaray e se transferiu para o Oceano, clube que também disputava o Campeonato da segunda divisão. Era uma equipe de ponta na disputa do título da competição. A estréia do novo goleiro do Oceano foi exatamente contra o Andaray. Antes do jogo, seus antigos dirigentes fizeram a maior gozação afirmando que iam fazer um monte de gols naquele jogo. Dudu ficou furioso e prometeu dar o troco dentro do campo. Veio o esperado clássico, o Oceano venceu por 5x0 e Dudu fechou o gol da sua equipe. O Andaray não se conformou e pediu revanche. Nova derrota. Agora por 5x3 com seu novo goleiro fazendo defesas espetaculares e impressionando aos torcedores pelo seu estilo de jogo. Nesse mesmo ano, o Oceano disputou o Campeonato Alagoano da primeira divisão. Na estréia venceu o C omércio por 3x1 e Dudu continuava melhorando a cada jogo.


1946 - Ariston, Dudu, Miguel


No ano seguinte, houve uma fusão entre Oceano e Andaray. Dessa fusão nasceu o América Futebol Clube, agremiação que durante alguns anos foi à sensação dos Campeonatos que participou. A cor de sua camisa era branca e verde. Carlos Miranda, um conceituado médico e grande desportista, era o Presidente. Jorge Assunção, seu Diretor de Esportes. E foi no América que Dudu começou a ser mais notado por suas defesas elegantes, sua maneira sempre gentil de tratar a todos, fossem companheiros ou adversários. Com isso, ele passou a ser respeitado e admirado por todos. Em 1945, os americanos, que tinham em Dudu uma das grandes figuras da equipe, chegaram ao Vice-Campeonato depois de uma manobra dos bastidores deu o título para o Santa Cruz no jogo contra o Comércio, que entregou os pontos para o clube do  exército. Em 1946 foi um ano especial para Dudu. O América não foi bem, mas atrapalhou o CRB e garantiu o título para o Barroso depois de um empate com o Clube da Pajuçara em 1x1. O time americano era bom: Dudu. Crispim e Nivaldo Yang Tay. Toledo. George e Dirson. Fausto. Raul. Joãozinho. Ferreira e Zé Cruz.

 O prestígio do goleiro era tanto que, quando havia amistosos com equipes de outro Estado que vinha jogar em Maceió, Dudu era sempre chamado para reforçar as equipes alagoanas. Quando jogava pelo América, Dudu nunca teve muita sorte contra o time do Comércio equipe que disputava os campeonatos alagoanos. Em um desses jogos o goleiro foi atingido violentamente pelo atacante Cão e teve que deixar o campo com um profundo corte na cabeça. Depois, cenas lamentáveis aconteceram entre os jogadores dos dois times. O companheiros de Dudu reagiram à violência do atleta do Comércio. Fora do campo, o médico do América fez um curativo no ferimento do goleiro e el e voltou com a cabeça enfaixada.

Agüentou apenas poucos minutos em campo. Desmaiou e os americanos continuaram a partida com apenas dez jogadores. Poucas vezes em nosso Estado, um time teve um conjunto tão homogêneo quanto o do América. Fazia gosto jogar naquela equipe. Apesar da pouca experiência e da falta de sorte sobrava raça, vontade e amor pela camisa que vestia. Na sua maioria eram estudantes com vontade de brilhar no nosso futebol. Muitos jogadores surgiam como verdadeiras revelações.  O trio defensivo: Dudu. Nivaldo Yang Tay e Dirson era o ponto alto do time.

1946 / Entrando em campo contra os baianos


Como todo jogador, Eduardo tinha uma ambição em sua vida: jogar na Seleção da sua terra. Ele não era diferente dos outros e vibrou quando viu seu nome na lista para a Seleção de Franz Gaspar que disputaria o Campeonato Brasileiro. Além de Dudu, outros dois goleiros  foram convocados: Zé Binga e Humberto. O Campeonato Alagoano foi suspenso para que a Seleção começasse os seus treinamentos. Humberto se machucou e saiu da Seleção. No seu depoimento, Eduardo Bezerra Montenegro confirmou que esta foi um das mais bem preparadas Seleções de todos os tempos. O Presidente da Federação era Dr. Paulo Neto e o Diretor de Esportes, o professor Mário Broad. Houve mais de um mês de concentração no Quartel do 20º BC. Havia harmonia entre dirigentes e atletas. Apenas Baiano do Barroso e Barthô do CSA f oram desligados por indisciplina. O nosso personagem se destacava a cada treino e jogo amistoso. Zé Binga também atuava muito bem.

 O treinador Franz Gaspar preferiu colocar Dudu como titular no primeiro jogo contra os sergipanos, jogo este que perdemos por 2x1. Mesmo assim, Dudu e o sergipano Cacetão foram as grandes figuras do jogo. O segundo jogo em Maceió foi ganho pelos alagoanos por 1x0 nos noventa minutos e por 1x0 na prorrogação. Classificados, saímos para enfrentar os baianos em dois jogos em Salvador. Dudu com faringite ficou mais uma vez de fora. Dr. Paulo Neto chegou a internar o goleiro tentando recuperá-lo, mas não foi possível. Perdemos de 5x2 com o goleiro Zé Binga sem culpa nos gols. No segundo jogo, no Estádio da Graça, perdemos de 1x0. Dudu voltou ao time titular e, segundo a imprensa baiana, foi a maior figura da partida. Foi, talvez, a maior atuação do goleiro alagoano em sua carreira de atleta. Depois do jogo Bahia e Vitória se interess aram pelo concurso do Dudu. Alguns dirigentes estiveram no Hotel Meridional para conversar com o goleiro que preferiu ficar em Maceió. Aqui estavam sua família, seu emprego e seus amigos. Dudu sempre lembrava com saudade daquela seleção. Havia união e uma amizade que continuou mesmo depois que os alagoanos perderam para os baianos. Ele cita nominalmente os jogadores: Alziro, Miguel Rosas, Ariston, Castelar, Nezinho, Fausto, Bequinho, Zé Maria, Oscarzinho, Fumaça, Zé Binga, Poty, Baiano e Nivaldo Yang Tay.

Em 1947, o Américo não disputou o Campeonato e Dudu foi para o CRB. Não teve sorte. Adoeceu logo depois de disputar os primeiros jogos e foi obrigado a ficar fora das quatro linhas por muito tempo. A fim de se tratar foi para o Rio de Janeiro onde foi submetido a longo tratamento. Completamente recuperado, retornou a Maceió um pouco gordo e fora de atividade esportiva há muito tempo. No ano seguinte, o Américo voltou a disputar o Campeonato e Dudu retornou aos gramados para defender seu querido clube alviverde que foi campeão do torneio, jogando com: Dudu. Crispim e Nivaldo Yang Tay. Fontino. Zoró e Ivon Cordeiro. Hélio Lobo. Louro. Adávio. Torres e Lenine. A sorte não estava do seu lado. Logo nos primeiros jogos fraturou os menisculos e resolveu desistir do futebol. Ficou apenas disputando o voleib ol pelo Flamengo , clube que ajudou a fundar na Praça Deodoro. Somente em 1950 é que Dudu se encheu de coragem e foi se operar no Recife com Dr. Barros Lima. Dois anos depois por insistência do Dr. Alfredo Ramiro Bastos foi defender o CSA. Disputou o primeiro turno do Campeonato e perdeu apenas uma partida para o Alexandria. Achava que não estava no melhor de sua forma. No período parado, engordou e achou que era o momento de largar o futebol. Nesse ano, o CSA foi Campeão e o time do primeiro turno formou com: Dudu. Bem e Mogi. Oscarzinho. Zanélio e Neu. Cão. Biu Cabecinha. Dida. Edgar e Dengoso.

América


Apesar de não querer jogar mais, sua carreira foi encerrada com uma grande decepção. Ainda vinculado ao CSA, Dudu foi convidado pelos dirigentes do Esporte Clube Alagoas para participar de um amistoso contra o Santa Cruz de Recife. Ele não aceitou, porque sabia que estava fora de forma. Os dirigentes tricolores insistiram e, para colaborar com os amigos, Dudu aceitou. Du du foi o goleiro do Esporte Clube Alagoas naquele amistoso. Quando o Santa Cruz fez dois gols, ele foi substituído por Pirilo. Decepcionado e achando que foi injustiçado, parou de verdade. Dudu sempre foi amador. Nunca assinou contrato com nenhum clube.

Deixando as quatro linhas do granado Dudu continuou trabalhando no futebol. Começou treinando equipes juvenis. Como havia feito com o juvenil do América, quando foi campeão em 1947, passou a orientar a equipe do Deodoro. Foi nessa equipe da Praça Deodoro que Dudu revelou jogadores que logo defenderam grandes clubes alagoanos e até a nossa Seleção. Atletas como Zé Luiz, Boleado, Bá, Lula Monstrinho e outros que se destacaram, mas preferiram os estudos. Quando treinou o Ouricuri, time da Usina do mesmo nome, o clube fez uma boa campanha no Campeonato Alagoano de 1959. Depois aceitou ser técnico do CSA. Organizou o departamento técnico do clube. Melhorou os vestiários azulinos dando higiene e limpeza àquele lugar. Armou  uma boa equipe que chegou a ser Campeão Alagoano de fato em 1960. Entretanto, o CSA perdeu o título nos tribunais esportivos. Apesar dos esforços e tudo que fez pelo clube, os dirigentes começaram a interferir no seu trabalho que era vitorioso. Decepcionado, resolveu se afastar de tudo. Na sua despedida, chegou a se emocionar junto com seus comandados.

Em 1963 foi para o Estivadores que era uma das grandes equipes do nosso futebol. Um plantel com jogadores contratados no futebol pernambucano como Arcanjo, Barbosa, Bibiu, Maurício e Canhoteiro. Apesar do bom time, o clube não tinha campo para treinar, em compensação tinha problemas financeiros e má vontade de alguns jogadores. Canhoteiro queria mandar e escalar o time. Com tantos problemas, mais uma vez Dudu resolve parar. Como técnico de profissionais, sentiu na pele a força maligna da ingratidão, da falta de reconhecimento e do desamor ao esporte. E ele que pensava que o esporte servia apenas para fazer amigos.  Deixou tudo. Tinha que cuidar de seus afazeres como bancário. Era no Banco Econômico da Bahia onde ele ganhava o dinheiro para sustentar sua família. Para todos aqueles que conheceram Dudu, são unânimes em afirmar que foi um grande goleiro, disciplinado e, acima de tudo, honesto com seus dirigentes, companheiros e adversários.

Edu em 1952

 Eduardo Bezerra Montenegro, o Dudu, se destacou no esporte alagoano não somente pelas grandes qualidades de verdadeiro craque, como também pelo cavalheirismo, disciplina, honestidade e lealdade. Era um verdadeiro gentleman. Profundo conhecedor das coisas do futebol, logo cedo começou a treinar equipes de juvenis. Sua dedicação, sua vontade de acertar e seu entusiasmo pelas coisas do esporte, faziam com que seus comandados criassem amor pela camisa que vestiam. A estrela que brilhou para Dudu como goleiro, nunca acendeu como treinador. Quando treinava suas equipes de juvenil se transformava em um verdadeiro paizão. Até problemas financeiros e de doença na família de seus atletas ele procurava resolver junto a seus amigos.

Dudu jogou numa época do futebol autêntico, sem influência das bolinhas, sem interesses financeiros e com muito amor à camisa que vestia. Por ter sido um puro de espírito e de coração. Por ser um verdadeiro desportista. Por sua dedicação ao desporto alagoano, de sua terra e de sua gente, o Governador Divaldo Suruagy lhe dedicou o título de Comendador do Esporte de Alagoas. Para Dudu, tal distinção o envolveu numa auréola de orgulho e o fez tornar a crer, que o esporte, realmente, é um  meio para fazer amigos e que dentro dele, apesar dos pesares, ainda existe desportistas autênticos e leais, exclusivamente por causa deles, os desportos ainda subsistem.

Trazendo no sangue, de berço, o amor aos desportos, Eduardo, ao abandonar o futebol, partiu para um sonho que até então parecia irrealizável: levantar o amadorismo em Alagoas. E de sua grande amizade com inúmeras personalidades do desporto alagoano da época, conseguiu fundar o Flamengo Esporte Clube, tradicional agremiação da famosa Praça Deodoro, clube que já nasceu Campeão no vôlei, basquete e futebol de salão. E dentro de suas raízes estritamente amadoristas, Dudu se entusiasmou na posição de atleta, conseguindo se transformar em um dos melhores cortadores do voleibol. E o Flamengo se tornou uma legenda de sucessos e glórias, arrastando sempre um numeroso público aos seus jogos e elevando o amadorismo a alturas nunca antes atingidas. Aqueles mais velhos lembram de Dudu atuando como “corta dor” da equipe de voleibol do Flamengo. E tudo começou com a quadra sendo marcada na calçada da Praia da Avenida que ficava defronte onde hoje é a sede do clube Fênix Alagoana. Dudu era um daqueles que preparavam a quadra para os jogos.

Flamengo em 1951

Eduardo Bezerra Montenegro, dito assim, esse nome pode nada significar para a juventude de hoje que acompanha o futebol. Mas a verdade é que, o dono desse nome em época distante, já foi um dos maiores ídolos da história do futebol em Alagoas.

Dudu aponta Miguel Rosas como o maior jogador que viu atuar. Afirma que o zagueiro foi um extraordinário craque de bola. Na seleção de 1946 o nosso goleiro jogou ao lado do mestre Miguel. Era uma tranqüilidade para todos seus companheiros de equipe. E foi nesse mesmo ano que Dudu conheceu aquele que pode se classificado como seu melhor treinador: o húngaro Franz Gaspar. Era o técnico do CRB e comandou a melhor seleção alagoana de todos os tempos. Apesar de ter um bom plantel e dificuldade de se comunicar com seus atletas Franz Gaspar sabia como comandar. Dudu aprendeu muito com ele e quando foi trabalhar como técnico se utilizou do aprendizado que colheu no tempo da seleção de 1946. No setor da arbitragem aponta Agustim Farrapeira como um bom arbitro. Também tinha Waldomiro Brêda. Eram árbitros qu e a grande maioria dos dirigentes e jogadores confiavam. Para escalar os melhores jogadores que viu atuar Dudu teve dificuldade. Cada craque tem sua época, seu momento. Com a nossa insistência resolveu fazer a sua seleção: Bandeira, Ariston e Miguel Rosas. Poty. George e Tomires. Milton Mongôlo. Bequinho. Dida. Oscarzinho e Fumaça. 

E em um sábado de carnaval quando muitos já estavam se divertindo, caindo na farra por conta da folia carnavalesca, nós ficamos em casa cuidando de atualizar nossos arquivos. E foi assim que recebemos a triste notícia do falecimento do meu amigo Dudu. Com o impacto da informação, parece que sentimos os tamborins pararem de tocar, as vozes dos cantores se calarem, os foliões fazerem um minuto de silêncio para homenagear Eduardo Bezerra Montenegro. Meu pai sempre me dizia: “Fazer amizade é fácil. O difícil é saber mantê-la”. Nossa amizade com Dudu durou mais de quarenta anos. Com ele aprendi muito. Ensinamentos no esporte e na vida. Com ele conheci os caminhos corretos para viver com dignidade. Ele me mostrou que as grandes amizades são os maiores tesouros que temos em nossas vidas. Mais vale um a grande amizade do que dinheiro no Banco, dizia Dudu. Infelizmente, a morte não tem hora para chegar. É uma dor sem remédio. Fica apenas a saudade e a eterna lembrança de uma figura querida por todos.




[Religião: Protestantiismo] Luiz Sávio de Almeida. Protestantismo em Alagoas: a intermediação cristã







Um bilhete sobre um missionário metodista nas Alagoas

          Ainda não chegamos diretamente em Kidder, mas chegaremos. Esperamos que as notas sejam úteis para fomentar a necessidade de ser discutida uma história protestante nas Alagoas. Das que publicamos, como já dissemos, constam textos de um diário que mantemos e onde se encontram parágrafos esparsos sobre o protestantismo em Alagoas.
Sávio de Almeida



 Protestantismo em  Alagoas: a intermediação cristã

Luiz Sávio de Almeida

COMEÇANDO A CONVERSA

      Jamais a sagração de um homem deixa de conferir-lhe poder; tem poder o padre e tem a sua contrapartida de beata; tem poder o pastor e todos os que o rodeiam e saem da massa dos fieis. O senso do pastor é exatamente solenizado com sua estrutura de acólitos, como tem o babalorixá, yalorixá ou pajé.  É como se o chamado sacerdócio necessitasse de uma espécie de entronização de corte, na medida em que se dá a  situação do pastoreando, babalorixando, padreando, freiolando, yalorixando, verbos especiais e ligados ao modo religioso na estrutura cultural. Mal comparando, poder-se-ia pensar numa espécie de sociedade de côrte ou pelo menos de seu mundo de cortejo.
 É como se o teatral litúrgico se projetasse numa eterna solenização com seus temas e tramas ligados ao cotidiano das igrejas; claro que o missionário, aquele que trazia notícias de um novo mundo, estava cercado e buscava a consolidação da  vida de um grupo. Socialmente, ele era o homem da grande pregação, aquele que conhecia os caminhos  e veredas, evidência das sendas a levarem a Deus, sempre certos de que faziam parte de uma verdade que lhes fora reservada, na medida em que foi construída a ideia de suas próprias salvações.  Na vinda protestante, como já frisamos anteriormente, estava sendo pregado um novo modo de ir à salvação, de romper com a velha ideia de uma igreja assentada nas marcas coloniais.
Deve ter acontecido uma imensa amarração entre o poder e o missionário. E daí se começa a institucionalização e um mando, que muitos não desejam ver. Não é uma subordinação de mero cunho econômico, como se o dinheiro estivesse corrompendo as consciências: o ajuste era bem mais largo e mais profundo pois ele era quem sabia o modo de ser crente e deve ter havido um grande desconforto cultural entre o que se encontravam no rumo do ser salvo e aqueles infernizados pelas práticas anti-cristãs. A salvação católica era solenizada de uma forma complexa, a salvação protestante de modo simples, mais direto.

A SUBSTITUIÇÃO

      No pensamento popular, devemos recordar o poder dado ao sacerdote católico. Como exemplo,  não importa se era acreditado ou não, mas se o padre não encontrasse a Aleluia, o mundo se acabava. Ouvi isso muitas vezes, quando era menino, ao lado de um deboche que ultrapassava as Trevas, com  a malhação de Judas e de um pequeno dito que  ouvi repetido: Aleluia, aleluia, a comida no prato e a farinha na cuia!. Era a Aleluia rompendo a Treva, recompondo o ciclo litúrgico e do cotidiano que se voltava para o prosaico da cuia.
No mínimo, o saber de onde estava a Aleluia, dava ao padre uma intimidade com os  mistérios: ele sabia onde estava a vida  do mundo. Não seria fácil substituir por um  pastor, de uma hora para outra  rearrumar o sagrado e nem de esperar uma passagem significativa de sacerdotes católicos para a nova ordem. As passagens sempre seriam tomadas como marcos emblemáticos de vitória. O sagrado tinha seu lastro nas Alagoas profundas, codificando o comportamento do vigário colado e do encomendado, e de toda a legião de instrumentos associativos e de controle movidos pela  Igreja Católica.
Um padre era um trunfo ao fazer o que se chamaria de apostasia.  É o  caso de Antônio Teixeira de Albuquerque – no âmbito batista – ,  bem como o de José Manuel da Conceição, no campo presbiteriano. Pelas informações de Oliveira (2003), Antônio Teixeira de Albuquerque casou no Recife em 1878;  Rockwell     sendo oficiante.  Este John  Rockwell Smith  – presbiteriano – parece iniciar a  saga missionária  em Alagoas,  tendo sofrido vexames  pelos lados da Rua do Comércio em 1874, conforme se lê em Geier (2008).  O Antônio Teixeira de Albuquerque  transfere-se  para o Rio de Janeiro (Igreja Metodista do Catete)  no ano de 1879;   em 1880 vai para Piracicaba e será  batizado, ingressando na Igreja Batista.  Dois anos após, estará fundando a 1º Igreja de Salvador, de acordo  com Silva e Silva (2008). Ele desenvolverá um trabalho essencial para os batistas, conforme avaliação de Silva (1999), em interessante texto sobre o protestantismo no contexto afro-brasileiro de Salvador. Antônio Teixeira de Albuquerque era alagoano e nascido em 1840 em Maceió, tendo falecido em 1887. O ex-padre (circa 1884) escreveu um texto intitulado Três razões por que deixei a Igreja de Roma.


OS  CAMINHOS MISSIONÁRIOS


      O fato é que pelos finais do Século XIX, as principais  denominações estarão instaladas no Brasil conforme referem  Gouveia e Mendonça (2008). Instaladas, no caso, é um termo forçado; já havia sido penetrada a brecha no controle do catolicismo sobre o estado ou do estado sobre o catolicismo, coisas diferentes, mas faces da mesma moeda. A maioria dos trabalhos que li, tende a não lidar bem – claro que a meu ver  –  com a questão histórica denominacional, e, por esta razão,  o contexto do cotidiano é esmaecido. Os grandes lances políticos são atrativos para os que buscam a discussão do poder, enquanto que os confessionais deslocam a história para a salvação. 
Houve uma severa polêmica para que se desse o trabalho missionário na América Latina em geral e no Brazil em particular. A primeira experiência teria sido na Patagônia, década de trinta do século XIX.  O que estava em jogo eram as missões para África e Ásia, mundo de ausência de uma tradição cristã. Posteriormente é que vai ser aceita uma área do mundo que estava esquecida como palco de salvação e é justamente aí, que reside a natureza do choque que se estabelece com o confronto que vai acontecer. O processo seria diferente da celeridade de penetração protestante na Europa, pois as circunstâncias sociais, econômicas e políticas eram outras. Enquanto o protestantismo debatia-se na Europa, houve a paz católica nas colônias, habilitando ingressar na complexidade entre infraestrutura e cultura, de uma forma diferente do caminho ideológico e político que se deu na área européia.

A VIRULÊNCIA

Em uma análise realizada em 1842, Balmes via o caminho do confronto europeu, a capacidade de resistência e de incremento protestante, levando-nos a passar pela estruturação do capitalismo; a história da estruturação deste capitalismo na Europa e nas colônias é diferente e, novamente, tem-se as grande condicionantes presentes no sistema. Dentre elas, a conhecida tese da interligação entre variabilidade e erro. Acontece, contudo, que as diferenças denominacionais (a variação) jamais pesariam efetivamente no jogo político, pois oficialmente e no jogo do profundo nacional sempre em construção, as variações efetivamente não existiam pois estamos diante do monocórdico católico.  Havia uma unidade a ser combatida, tanto no espaço teológico formal quanto no informal.
O nível europeu de controvérsia chegava a passar por extrema virulência na escrita, como a adotada, por exemplo, na França por Seguir (1862), intitulado “Prelado Romano e Canónigo del Capítulo Imperial de S. Dionísio”.  E é interessante o tom que utiliza para falar das virtudes de sua obra, quase como se fosse daquelas correntes que costumavam circular: aconteceu tal coisa na Venezuela, tal coisa com a mulher de Putifar... Dava-se a necessidade de demonstrar a importância de seu texto mais pelos resultados que promulgava,  do que pela discussão dos argumentos. Na verdade as razões se repetem ao longo da bibliografia. A Igreja se colocava como agredida e em defesa, o que a livrava para um sem fim de perseguições, enquanto o protestantismo se posicionava por um ataque permanente mas em campo minado. Esta era a natureza da porfia e no caso alagoano, ela deve ter começado incipientemente com os primeiros ingleses e depois ter ganho em vulto, devagar

RAÍZES PROTESTANTES

      È difícil querer radicar o protestantismo brasileiro, no sentido de assentar suas raízes nas invasões colonial e mercantil dos franceses e holandeses.  Nem mesmo seria de rigor pensar nos bolsões evangélicos provocados com a importação da mão de obra e colonização agrícola; ele se instala em um estagio do capital na atualização das estruturas do Império que começam seus fundamentos nos anos 50 do século XIX e, acontece de fato, quando o termo missão assume relevo, procurando fundar sistematicamente o processo de quebra da hegemonia católica e este processo vai acontecer em torno de 130 anos, quando varia a própria composição política brasileira, talvez sendo nos impasses entre a Igreja Católica e os Militares que se abra o maior espaço para o protestantismo junto ao poder na década de sessenta.  São raro os momentos de confronto deles com os protestante e mais raros ainda na medida em que trabalha no nível das instituições.

INFORMES SOBRE ALAGOAS

      Neste contexto,  Alagoas será atingida no século XIX, mas o registro é  extremamente parco e de difícil acesso. Possivelmente são os batistas, aqueles que realizaram maiores esforços no sentido de construir uma história, mas há de se convir que são eleições pessoais, são casos esporádicos e ao longo de existência do protestantismo em Alagoas não se formou um interesse efetivo de grupo na produção intelectual sobre o processo que se viveu em Alagoas.  Há o que se pode chamar de antiguidade evangélica em Alagoas; por exemplo,  os presbiterianos estariam com igrejas em 1887, tanto em Maceió quanto em Pão de Açúcar, ambas fundadas por John Rockwel Smith e José Primênio, segundo material do Instituto Presbiteriano Mackenzie. 
Estamos com mais de um século e pouco ou quase nada é discutido.  Existe,  em trabalhos que li e alguns sobre Alagoas, o que entendi como um problema: a carga da herança missionária e os informes circulando em circuito que pode chegar ao viés de uma história personalizante. Claro que não se pode anular a igreja missionarizada,  mas o extremo consiste em fundar  uma regra-de-três histórica e que termina por retirar a efetiva representatividade do local;  afinal de contas, tanto ou mais do que o bode estrangeiro sofria o bode local na edificação de sua Igreja.
  É claro que a figura missionária  é  chave,  mas centrá-la pode tender  a deslocar  o eixo do sujeito histórico que é a congregação ou a comunidade de fé;  aquilo que fundamenta a idéia de Igreja é a existência  de comunidade, pessoas que se repartem gerando aquilo que é comum. Não assumindo desta forma o processo, jamais o historiador poderá chegar aos fundamentos do cotidiano, e jamais se encontrará o verdadeiro sujeito do processo. Sem isto desaparece a possibilidade de uma história, pois some o povo que se fez evangélico. Onde a figura do missionário é fundamental, está no grande jogo político armado.
De fato, haveria a necessidade tática de aproximação ao poder de mando e ocorre  a entrada protestante, a nosso ver,  no  aproximar-se do jogo do mando imperial e avantajar-se no  jogo do  mando do poder local, onde efetivamente se daria o cotidiano ou a presença na sociedade do protestantismo. Eram formas de poder ligadas às estruturas de mando, que teriam significações táticas absolutamente diferentes.  No que tange ao imperial, havia a possibilidade de articulação com conservadores e liberais. Entenda-se que a expressão americano transforma em homogênea uma situação heterogênea chamada Estados Unidos da América, especialmente quando se aplica àquela época quando o país vai marchando, inexoravelmente, para a divisão entre norte e sul, o que atinge suas igrejas; em grande parte  nós estamos diante de uma vinda sulista, no que veja-se o destino, podem ter pesado as  noticias sobre Alagoas, justamente a partir de Kidder. Sem dúvida o livro de Kiddder circulava também pelo sul, conforme se pode ler em Carl A. Youngblood em seu ensaio cujo título é sugestivo:  Sonhos do Exílio: Confederados Norte Americanos no Brasil. O texto era conhecido no sul dos Estados Unidos e talvez tenha ajudado a pensar a reconstrução de um mundo nos trópicos. O escravismo brasileiro não seria afrontado. 
Estamos diante de um contexto confederado a buscar uma forma de reproduzir-se, agora, vendo o espaço  tropical, inclusive, pelo Império ter sido ligado aos confederados. Escreve Adamovicz em seu  texto de doutoramento baseando-se em Dawnsey (2008: 48)  cujo livro sobre a imigração foi publicado em 1995 no Alabama: “Após a derrota dos Confederados, [...] um grande número de americanos sulistas descontentes [...] decidiu deixar os Estados Unidos. O governo brasileiro que havia sido aliado dos Confederados [...]...”  Jamais estaríamos dizendo, contudo,  que vieram com a intrínseca e exclusiva finalidade de reproduzir  o modelo sulista, a sociedade da plantation feita em torno de Deus, como se dava na plantation brasileira catolicamente administrada.
O que não se pode negar  são as possibilidades de afinação entre o algodão sulista (que sofreu com a guerra), a posição do Império ao lado Confederado, a necessidade da economia imperial solver seus problemas de fluxo de força-de-trabalho,  implementando a colonização estrangeira e encontrando a evidência religiosa, por exemplo, de uma pobreza européia que, salvo a italiana, não seria obrigatoriamente católica. A religião de estado teria que transigir com o processo de geração de renda.  E esta era uma brecha.
 Aliás, continuando a ligação com momentos políticos e econômicos, convém considerar a vinda de D. João VI e as conseqüências da chamada  abertura dos portos e com isso, imediatamente, estamos diante da Igreja Anglicana. As brechas permitiam o estabelecimento de cunhas, mas não a institucionalização. A Constituição gerava duas situações: a pública com templos e a privada. O estado ficava católico e a casa poderia ser protestante.  A institucionalização protestante vai passar pela busca do espaço público, por fazer-se evidente, mas isto não se distanciaria dos momentos básicos da formação histórica brasileira que estariam na escravidão e no capitalismo, elementos contextuais fundamentais.
Há de se ver os problemas batista nos Estados Unidos em 1845, os problemas metodistas  em 1844. Nota-se como as igrejas não  podem ser afastadas das vicissitudes históricas, justamente pelo fato de serem comunidades e a vida-de-fora não se isola da vida-de-dentro. Um indivíduo não é calvinista por ser comerciante e nem é comerciante por ser calvinista, mas  jamais este mesmo indivíduo ao ser um acontecimento  deixaria de ser um calvinista-comerciante e um comerciante-calvinista e estas duas condições podem   estar plenamente em tensão,    daí  cindir-se a Igreja. A mesma cisão parece que vai acontecer na Igreja Presbiteriana no ano de 1857. Há uma revisão do encontro entre abolição e protestantismo no Brasil  escrita em  Andrade (2002) que informa sobre este andamento.
 A vinda de americanos do sul não demarca uma igreja necessaramente  escravista e até se darão encontros abolicionistas. A mesma Andrade afirma que 1884 será um ano de evidente inflexão, mencionando matérias em o Novo Mundo e Imprensa Evangélica de caráter plenamente anti-escravista. Ela cita Boanerges recordando o pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira e a série de artigos por ele escritos contra o instituto da escravidão.  É ainda Andrade quem menciona um dado importante: ideologicamente havia a proposta  que ligava atraso à escravidão e, então, de certo  modo, amenizamos a afirmativa,  os protestantes  estariam em condição de se argumentarem como representantes da mudança. 
Como se nota, a existência de um campo religioso no sentido de Bourdieu  demanda a contextualização do sagrado ou, como na construção do espaço no sentido de Milton Santos,  incide o histórico do sagrado. Neste campo, sem dúvida, lida-se com  a legitimidade e, portanto, com  a legitimação;   ou, propondo a questão de outra forma,  com o processo de tornar-se e ser legítimo.  Deste modo, não é possível que este processo  deixe de implicar numa negociação constante de fatores de legitimidade e ela se dá na rede das relações sociais e nas redes do poder: formalizado ou não.
Os passos vão sendo dados aos poucos, aproveitando-se até momentos maçônicos, sem que acontecesse qualquer pacto conhecido; a forma da prevalência católica por via do estado era o que unia uma forma de contraposição no sagrado, onde vai juntar-se  o espiritismo.  Ainda na junção, note-se que a hierarquia católica passa a nutrir expectativas  quando  a vinda dos confederados –  ameaça – , ao seguirmos os informes e comentários de Rodrigues (2008).  O fato é que se havia uma derivação conservadora, acontecia também uma derivação liberal e aí aparece a associação entre Tavares Bastos e Flechter e, possivelmente, o espírito do próprio Imprensa Evangélica.
Esta relação com a estrutura da sociedade leva Santos (2008) – em seu doutoramento – a propor que, ao estudar a inserção do protestantismo em Pernambuco, demonstra-se a existência de luta ideológica e não confessional.  Sua tese é que não se tinha a questão confessional como a base, mas o modo de ver a organização da sociedade e, aí, todo um universo de construção do social e de produção ideológica se pronuncia.  Evidentemente, jamais o ideológico poderia estar ausente e é impossível separar o mundo confessional do ideológico; são formas interligadas e acontecimentos integrados.

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