sábado, 29 de junho de 2013

CAMELO, ANA R. Praça? Praças!


Uma pequena informação


        



Ministro uma disciplina intitulada Formação do espaço alagoano,  no mestrado Dinâmicas do espaço habitado, Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas. Vez em quando, peço para trazerem fotos e com elas abro discussão com a turma. É interessante verificar os aspectos da vida que são fotografados e como o aparente fragmento traz em si as indicações de um todo, como se fosse, naquele momento da discussão,  a mínima representação de todo um conjunto de fatos, conjuntura e estrutura. Desta feita, decidimos partilhar fotos e comentários realizados pelos autores como motivação para o debate. Nesta postagem, encontra-se o material produzido por Ana R. Camelo.








PRAÇA? PRAÇAS!

A praça e seus diversos usos. 

A foto acima é da praça Menino Jesus de Praga situada no bairro do Pinheiro em Maceió-AL. Durante o dia quase não há movimento, apenas no sapateiro e chaveiro que estão localizados em um dos  lados.


A mesma praça (Menino Jesus de Praga)  durante a noite. O seu uso é mudado completamente, já que existe um bar que movimenta todo o fluxo da praça com seus freqüentadores semanalmente. Durante o período do São João até a rua é fechada para que possa ocorrer o “São João da Praça” com fogueira, fogos e comidas típicas.





Esta foto foi tirada durante manifestação que aconteceu em Maceió no dia 20/06/13. Na concentração na praça Centenário,  vários grupos de diferentes ideologias se encontraram, que durante os dias normais tem seu uso ligado ao recreio da população no geral mas também é identificada como um ponto de violência da capital. 







Outra foto da concentração já perto da hora da saída da passeata, alguns só observam, outros participam de diversas formas e a praça como palco dessas diversas manifestações sociais.

LINS, Thalita. Casas e gentes




Uma pequena informação


        



Ministro uma disciplina intitulada Formação do espaço alagoano,  no mestrado Dinâmicas do espaço habitado, Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas. Vez em quando, peço para trazerem fotos e com elas abro discussão com a turma. É interessante verificar os aspectos da vida que são fotografados e como o aparente fragmento traz em si as indicações de um todo, como se fosse, naquele momento da discussão,  a mínima representação de todo um conjunto de fatos, conjuntura e estrutura. Desta feita, decidimos partilhar fotos e comentários realizados pelos autores como motivação para o debate. Nesta postagem, encontra-se o material produzido por Thalita Lins.




Foto da residência de Dona [...]  na cidade de Palmeira dos Índios. Como sempre foi devota do Padre Cícero, Dona Espedita construiu um altar em sua homenagem ao lado da residência, e como o santo era grande protetor da natureza e dos animais, colocou várias esculturas de animais decorando o altar, posteriormente as esculturas foram crescendo em número e se espalharam por todo o espaço do quintal. Além deste altar mostrado na foto, existe também um altar dedicado a Nossa Senhora na varanda lateral da casa. Ela conta que todos os anos organiza uma festa no dia primeiro de novembro (dia de todos os santos) que atrai pessoas de vários povoados, bairros e sítios vizinhos. Aí podemos observar que não só a residência, mas o espaço como um todo adquire uma simbologia muito forte, sendo ao mesmo tempo lugar de culto e onde as relações com os vizinhos e com as pessoas que frequentam a festa todos os anos acontecem. Os animais feitos de cimento não estão lá apenas como decoração, todos foram colocados em homenagem ao “Padrinho Padre Cícero”. Os ornamentos são acumulados a partir de um significado afetivo e religioso e o tratamento da residência como um todo desmonstra a íntima relação de identificação da moradora com o espaço por ela concebido. Abaixo, alguns detalhes da residência.ar legenda

Apresentação de um grupo de guerreiro na cidade Arapiraca. A intensão dessa foto foi mostrar a tradição popular, como as práticas, danças e brincadeiras são passadas para as crianças de modo espontâneo e, em muitos casos,  é isso que ainda garante continuidade dessas práticas, já que a maioria desses grupos não são contemplados pelas políticas públicas de patrimônio. 

Esta casa é localizada na cidade de Quebrangulo-AL e, na foto,  procurei mostrar a beleza e singeleza da arquitetura popular. Por que só a chamada “arquitetura erudita” pode ser considerada bela? A arquitetura popular revela muito mais que formas e cores, estando profundamente ligada ao cotidiano e à vida das pessoas. Nessa foto percebemos como o morar numa casa significa habitar dois espaços ao mesmo tempo: o físico, onde nossas atividades domésticas do cotidiano são realizadas e o espaço simbólico-afetivo, com o qual nos identificamos e nos identifica.




   A foto mostra uma rua da cidade de Quebrangulo, um longo agrupamento de casas de porta e janela,  escoradas umas às outras,  formando verdadeiro corredor de casas; essa tipologia marca a paisagem de várias cidades do interior alagoano,  influenciando diretamente na percepção e nas sensações que as pessoas têm do espaço urbano que vivenciam.

Uma rua da cidade de Palmeira dos Índios. Na foto,  procurei mostrar um pouco do cotidiano das cidades do interior. O costume de sentar à porta de casa que nas cidades grandes foi se perdendo e sendo substituído pela busca por segurança e privacidade.



SANTOS José Almeida. Poder e descaso. Imagens e discussão




Uma pequena informação

        



Ministro uma disciplina intitulada Formação do espaço alagoano,  no mestrado Dinâmicas do espaço habitado, Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas. Vez em quando, peço para trazerem fotos e com elas abro discussão com a turma. É interessante verificar os aspectos da vida que são fotografados e como o aparente fragmento traz em si as indicações de um todo, como se fosse, naquele momento da discussão,  a mínima representação de todo um conjunto de fatos, conjuntura e estrutura. Desta feita, decidimos partilhar fotos e comentários realizados pelos autores como motivação para o debate. Nesta postagem, encontra-se o material produzido por José Almeida Santos e por ele intitulado Poder e descaso.


PODER E DESCASO
JOSÉ ALMEIDA SANTOS
          


Estas fotos foram tiradas na cidade Paripueira, litoral norte de alagoas, em 2013 e  mostram  descaso e falta de vontade do poder público em resolver o problema. Provavelmente, quando a rua foi pavimentada, a casa estava por lá, assim como é provável que,  quem a construiu,  soubesse que o local era público, uma rua.   
Estas fotos foram feitas em uma cidade da zona da mata alagoana, no momento em que um deputado federal discursava sobre educação básica no estado, dizendo que ela era o futuro do estado  e por isso parabenizava o IFAL pela iniciativa.  Quando me retire. Deparei-me  com as duas pickups do tal deputado,  estacionadas,  exatamente,  no meio da rua com os  funcionários a postos. Esta imagem traz à tona uma realidade que parece nunca ter mudado e que perdura desde o inicio da formação do espaço alagoano. A sensação que fica,  é que tempo do coronelismo continua firme

 como nunca.

domingo, 23 de junho de 2013

[Culinária alagoana e memória] UM PASSEIO NAS PEDRAS


Publicado originalmente em O Jornal. Maceió, 12 out. 2007.


O Guia Savio da Cozinha Alagoana 
 Um passeio nas pedras
Luiz Savio de Almeida


  

Um dos mais belos locais de Maceió é o conjunto de   pedras da Ponta Verde, embora agredido por monstrengo de concreto que enche a área de ângulos. Os olhos devem levar diretamente para o horizonte, onde se encontra a África.  Contaram-me que havia um homem em Maceió e que - sempre vestido de branco - passava o dia sentado na Avenida, olhando para o horizonte. Quando perguntavam o que fazia, respondia: estou vendo as torres de marfim da África. No caso, o cara estava invadido pelo marfim  e não pela África. Não sei o que se passou com ele; sei apenas que, pelo menos a minha África, não tem torres de marfim. 



      O lugar pode ser contemplado, mesmo sem estar Sendo visto. Há uma geogratia do potencial; é a que faz parte do imaginário e nele que cada local pode ser multiplicidade, uma possibilidade sempre aberta. O lugar é diferente do espaco, mas nao é hora de discuti-los, é claro que existam um lugar e um espaço das pedras e, portanto, existem as gentes das pedras. Foi o que primeiro me chamou atenção: as gentes. São pessoas que vivem no compasso das mares; gente que pesca, gente que pega polvo...  Abomino os que usam a agua sanitária para fazê-lo sair da toca; não gosto de vê-lo puxado por gancho. Gosto de vê-lo livre, mas, estranhamente, adoro
arroz de polvo.


     
  E nisso, vez em quando viajo para São Bento, onde como o melhor polvo das Alagoas, no Bar do Chaves. Vale a pena andar sem parar l7 léguas e meia para comer o polvo, conversar com o dono, ver suas peças, escutar suas historias de marinheiro de alto-mar. ]a comi polvo em tudo quanto é canto: o dele recebe o premio.
      Na minha cabeça e na área das pedras, foi construida uma estrada da praia ao pequeno
farol. Penso que a Marinha deve ter feito uma estrada para um jeep passar. Doidice, que ninguém
iria fazer uma estrada e nem dar manutenção ao farol usando jeep garassuma.   que tracei um
rumo e a invenção da estrada me ajuda a nao esquecê-lo. O farol é meu objetivo, mas a pessoa
deve ter cuidado com o tempo, nao deixar a maré enchendo pegar. Tem-se que ticar de olho na
arrebentação, na correnteza que vai se formando e enchendo poças, nos pescadores que saem da
arrebentação. No mais, é um extremo cuidado ao pisar, evitando escorrego e os espinhos dos
ouriços. Espinho de ouriço somente sai com uma espécie de compressa de querosene esquentado
no fogo; ele quebra que é uma beleza e diz o povo que o querosene puxa. Já experimentei puxax.
          O resto é procurar beleza nos corais, nas pedras e, sobretudo, nas poças, com algumas
delas, especialmente a esquerda do farol, sendo de bom tamanho para um mergulho com direito a
mascara, pé-de-pato, respirador. Claro que não tenho mais condições para tal proeza, mas ainda
sei me sentar e ficar pacientemente louvando os peixes que enfeitam as águas. Um dia, maravilhado vi uma mututuca passando veloz pelos meus pés. Mergulhei e tiquei olhando aquela coisa linda, como é lindo o beiço-de-boi, como é linda a moréia com sua cara de cobra.

         

  Não é da culinária alagoana. Culinária é o polvo do Chaves, mas não posso deixar de
dizer que - no tempo quando não havia a poluição das aguas - eu apanhava alface do mar para tomar caldo. E preciso ter cuidado ao apanhar algas, pois dizem que muitas são tóxicas.
Apanhava somente a alface, que da um caldo gostoso, depois de devidamente cuidada. Mas o que
eu adorava mesmo era comer o ouriço cru. Puxava, quebrava e comia, acompanhando tudo com
goles de um bom conhaque. Bom conhaque mesmo. Colocava os pedaços na palma da mão e
dava aos pequenos peixes que vinham de todos os cantos.

      
Cada um tem seu peixe. Peixe é um particular, Apesar de ter sido criado - de acordo com a minha mãe - comendo pirão de carapeba, meu peixe é a tainha fresca e frita. Não tem outro para mim. Ela deve estar totalmente enxuta, rolada na farinha de mandioca e jogada no óleo fervendo, sempre renovado para não pegar ranço. Depois, é farofa d'água com um belo cheiro verde e rasgar a tainha com as mãos, fazendo o que o povo chama de capitão, rompendo com a civilização ocidental colherosa,  garfosa  e facosa segundo a expressão da Maria Lopes. Ela desafia a que se diga farofa com a boca cheia de farofa.

sábado, 22 de junho de 2013




O Guia Sávio da Cozinha Alagoana 

Brazulaque e carneiro com fava

Luiz Sávio de Alrneida












Acordo, espero o Fiúza para irmos apanhar o Sidney e rumarmos para café com o Aldo Rebelo. Eis senão quando sente-se a necessidade de um dístico e os poetas, depois de mil confabulações, conseguem compor nobres versos camonianos: nada melhor,  numa  churrascaria, do que uma boa poesia. Espetinho de versos, disse a Maria Lopes, com uma ponta de deboche.

A sagrada bandeira da pátria capalense

A Viçosa
Tomamos o caminho da Capela, Fiúza mostrou onde era a zona (na verdade eu tive um tio que montou bodega no local), vimos a Igreja onde me batizei, passamos na estação, louvamos a beleza do Grupo, lembramos do Sadi Cabral, passamos no primo Neuton e tomamos o destino da Viçosa, sem deixar de lembrar do Natalicio de Almeida.
Vai que encontramos a primeira placa anunciando o famoso motel regional: Dallas. Apareceu outra, com o motel dizendo-se a 11 quilômetros,  como se estivesse motivando: ‘Amigo, cana tem pelo, não desista que você chega lá’. E não passamos pelo Dallas; fomos pelo Sabalanga.  Tínhamos que pegar a estrada para Mar Vermelho, mas a tradição levou-me a Padaria (próximo relato) que sempre frequentei na Viçosa e saímos para o Aldo, pegando a estrada que tem o nome de um inesquecível amigo, o José Aprígio. Fiquei em busca de uma placa varias vezes por mim e por meu filho fotografada: Zezinho dos Usados. Os usados do Zezinho tinham acabado e garrei a pensar no que havia acontecido com ele.
O carro anda, pega a esquerda, sobe e, de repente, uma casinha branca e a primeira surpresa culinária do dia: um belíssimo brazulaque. Se brazulaque é extraordinário, avalie quando o leite é da vaca Única. Comemos e enchemos a pança (o Aldo até mandou fritar mais ovo) ao som de conversa sobre política e dia-a-dia. Fiuza é magro e come muito; Sidney é gordo e come muito;  Aldo é magro e come pouco. Isto me intrigou,  fiquei calado pensando na misteriosa relação entre comer e ser gordo ou magro, desde que não se pode ser O Gordo e O Magro, direitos autorais americanos. Só americano consegue ser 0 Gordo e o Magro.

Mar Vermelho


Mar Vermelho

Decidimos ganhar o mundo e o dilema seria onde encontrar uma churrascaria que correspondesse ao lema da expedição, rimando com poesia. Veio o rumo do Mar Vermelho,onde sentado numa praça ouvi uma musica impressionante, sobre a historia de um vaqueiro que se apaixona por uma moça de minissaia verde e o cavalo dele vai às portas da morte com ciúmes.

       
Tanque d'Arca

Tanque d'Arca
Sidney se lembra dos versos, uma espécie de espanto e tristeza do vaqueiro: ‘Nunca pensei que animal tivesse sentimento: Eita cavalo ciumentol’. Visitamos Mar Vermelho e para onde iríamos? Tomar o caminho de Viçosa? Qual a razão de nao ficarmos no Geraba e irmos almoçar na Churrascaria Caroman? Ela pertencia a Rosa que havia se aposentado dos Correios e, além do mais, via-se a graça da maviosa Cicera, perfunctoriamente falando. Todos nos aceitamos a beleza do carneiro guizado. Está aí, um endereço para quem  for ver as maravilhas da estrada que vai da Viçosa à Tanque d'Arca: Churrascaria Caroman, lá no Geraba, após o Tangil. Peça carneiro e se assuste como é bom. Além dos mais, a cachaça com raízes é de bom gosto, apesar de ser de coluna, o que n ão me agrada, mas a raiz temperou bem e muito bem por sinal.


[1] Texto publicado na edição do dia 23 de novembro de 2007, O Jornal.