O texto sobre as fotografias está da forma como foi
redigido em campo, logo após ter sido
tirada a foto ou depois, à noite, quando as imagens do dia eram repassadas.

A rua se transformou em um imenso espaço de tudo e de nada. Acho que alguns já estão arrumando a carga. Quem desejar ver o passado nesta foto, olhe para cima e terá a sensação de como a cidade poderia ser linda, não fosse o modernoso que a invadiu. Para sentir, basta deslocar a vista para o lado esquerdo. Mas eu então fico perguntando sobre o que poderia ser considerado como a arqueologia da rua, como se tivesse o tempo soterrado em cima e deixasse o novo aberto embaixo. Parece que estou nas mãos de um tipo inusitado de Hermes Trimegistrus. O tempo da Maceió é a Maceió do tempo; isto leva a uma igualdade? É tão linear assim, aquilo que acontece nesta foto? Dá o que pensar! Não resta dúvida.
Muitas bundas. Bundas novas, bundas velhas às vistas de São Caetano. Um historiador apresado no futuro, vendo esta foto, diria que o povo de Maceió somente tinha costas e 6/8 habitantes eram do sexo feminino. Para onde vão os do lado esquerdo e o que estão vendo os do centro? De onde vem a roupa à direita, das bandas de Caruaru? Esqueceram o número do telefone? Quantas dúvidas a realidade lança, joga; quem sabe bem mais do que brotam do imaginário?
A rua é impudica. Eu mesmo fiquei imaginando os enchimentos do sutiã pendurado. Ela era baixinha e não poderia ter mais do que 1,50 m. Basta ver a distância do sutiã azul para os seios da mulher que usa camiseta verde. A de verde não está com; bem que poderia comprar ao vendedor fantasma. Só dá mulher andando e praticamente os homens estão preguiçando.
Um oásis e a devastação das fachadas. O comércio de Maceió decretou-se como a solenização nacional da feiura . A fotografia olha para os lados do Mercado Público e acho que naquele casão ao fundo funcionou as Casas Pernambucanas. Isso era lindo, modesto porém decente. Aqui, até a parte de cima caparam. Ai que saudades que eu tenho da aurora de minha vida...
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