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Mestre Tonho Lambe-sola |
A Sociedade dos Amigos de Viçosa encontra-se em expansão,
espécie de atalaia cultural sobre o famoso Vale do Rio Paraíba. Ela começou a
atuar no espaço de Viçosa e terminou adentrando Atalaia, onde foi encontrar o
Mestre Tonho Lambe-Sola. É muito bom que
a Sociedade abra seus braços para compensar a falta de ação ao longo do Vale e,
neste caso, com uma legitimidade a toda prova, pois o Mestre Tonho cresceu no
Riacho do Meio. É também de valia
registrar, que a Sociedade sabe abrir um bom rol de parceiros, contando, neste
caso, com a participação da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas
através, sobretudo, do interesse do seu Presidente. É importante destacar a
Federação das Indústrias neste lançamento. Talvez fosse a oportunidade de seu
Presidente examinar a possibilidade de participar mais diretamente da vida
editorial alagoana, instituindo - quem sabe? -
uma verba anual para compor no financiamento de impressões de textos que discutam Alagoas, numa linha
editorial sem preconceitos de matizamento ideológico, importando, apenas, a excelência do texto. Tudo a partir de uma seleção criteriosa que
poderia ser realizada por um Conselho ou coisa semelhante.
O fato é que estamos na 3ª edição dos poemas de Antônio
Aurélio de Morais, contando com uma
seleção realizada por Sidney Wanderley, autor, também, de esclarecedora orelha.
Mestre Tonho Lambe-Sola aflorou em grande parte no contexto de artistas e intelectuais
ligados à esquerda, especialmente do PCdoB. Rara a oportunidade em que se
deixava de ouvir o poema Salário Mínimo, declamado pelo Paulo Poeta. Não me
parece que Mestre Tonho tivesse radicais inclinações à esquerda. No entanto, a
esquerda percebeu a sua genialidade:
parodiando Thompson, ele construía uma poesia tipo from bellow.
Não resta dúvida que seu poema sobre o salário mínimo,
fascinaria a esquerda.
A irreverência da abordagem e a forma como é montada a
grade de situações, torna, sem dúvida, o poema uma espécie de clássico, no
sentido de que assume as características do que se costuma chamar de
obra-prima. A expressão é chata – não conheço uma obra-tia - mas o texto é muito bem construído, chega na
luta entre o viver e o morrer, numa tensão em que o salário é o motivo. É um
texto onde situações reais são levadas ao fantástico e onde, inteligentemente, ele
se transforma em uma extraordinária fala sobre a sociedade:
Só tem uma solução
Prá nois pobre brazilêro
É inguli osso intero
Qui nem avestrui ou
ema
Ô antão num cumê mai
Tapa a porta de trai
Tá rizurvido o probrema
Nu mundu tem munta arma
I jeito di matá gente
Porém a arma valente
Qui mata sem cumpaxão
É essa arma infeliz
Qui si chama in meu Paiz
Salaro mimo, patrão.
O livro do Mestre Tonho estará na praça!, gritou Maria Lopes espevitada, sem se lembrar
de que Cascudo já havia estabelecido a inutilidade assumida por um instrumento que se chamava de espevitadeira.
Maria Lopes tem extraordinário bom gosto e toda a minha admiração. Se ela está
com o Mestre Tonho Lambe-Sola, que viva a Sociedade dos Amigos da Viçosa.
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Encenação pelo grupo Joana Guajuru |
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