segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

[HISTÓRIA: LITERATURA: LAMBE-SOLA] Luiz Sávio de Almeida. A reedição do Mestre Tonho Lambe-sola




Este artigo foi publicado      em O Jornal  (Maceió) , no mês de setembro de 2007











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Mestre Tonho Lambe-sola


A Sociedade dos Amigos de Viçosa encontra-se em expansão, espécie de atalaia cultural sobre o famoso Vale do Rio Paraíba. Ela começou a atuar no espaço de Viçosa e terminou adentrando Atalaia, onde foi encontrar o Mestre Tonho Lambe-Sola.  É muito bom que a Sociedade abra seus braços para compensar a falta de ação ao longo do Vale e, neste caso, com uma legitimidade a toda prova, pois o Mestre Tonho cresceu no Riacho do Meio.  É também de valia registrar, que a Sociedade sabe abrir um bom rol de parceiros, contando, neste caso, com a participação da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas através, sobretudo, do interesse do seu Presidente. É importante destacar a Federação das Indústrias neste lançamento. Talvez fosse a oportunidade de seu Presidente examinar a possibilidade de participar mais diretamente da vida editorial alagoana, instituindo - quem sabe? -  uma verba anual para compor no financiamento de impressões  de textos que discutam Alagoas, numa linha editorial sem preconceitos de matizamento ideológico, importando,  apenas, a excelência do texto.  Tudo a partir de uma seleção criteriosa que poderia ser realizada por um Conselho ou coisa semelhante.

O fato é que estamos na 3ª edição dos poemas de Antônio Aurélio de Morais, contando  com uma seleção realizada por Sidney Wanderley, autor, também, de esclarecedora orelha. Mestre Tonho Lambe-Sola aflorou em grande parte no contexto de artistas e intelectuais ligados à esquerda, especialmente do PCdoB. Rara a oportunidade em que se deixava de ouvir o poema Salário Mínimo, declamado pelo Paulo Poeta. Não me parece que Mestre Tonho tivesse radicais inclinações à esquerda. No entanto, a esquerda percebeu a sua genialidade:  parodiando Thompson, ele construía uma poesia tipo from bellow. 

Não resta dúvida que seu poema sobre o salário mínimo, fascinaria a esquerda. 

A irreverência da abordagem e a forma como é montada a grade de situações, torna, sem dúvida, o poema uma espécie de clássico, no sentido de que assume as características do que se costuma chamar de obra-prima. A expressão é chata – não conheço uma obra-tia -  mas o texto é muito bem construído, chega na luta entre o viver e o morrer, numa tensão em que o salário é o motivo. É um texto onde situações reais são levadas ao fantástico e onde, inteligentemente, ele se transforma em uma extraordinária fala sobre a sociedade:

Só tem uma solução
Prá nois pobre brazilêro
É inguli osso intero
Qui nem avestrui ou  ema
Ô antão num cumê mai
Tapa a porta de trai
Tá rizurvido o probrema
Nu mundu tem munta arma
I jeito di matá gente
Porém a arma valente
Qui mata sem cumpaxão
É essa arma infeliz
Qui si chama in meu Paiz
Salaro mimo, patrão.

O livro do Mestre Tonho estará na praça!,  gritou Maria Lopes espevitada, sem se lembrar de que Cascudo já havia estabelecido a inutilidade assumida por um  instrumento que se chamava de espevitadeira. Maria Lopes tem extraordinário bom gosto e toda a minha admiração. Se ela está com o Mestre Tonho Lambe-Sola, que viva a Sociedade dos Amigos da Viçosa. 


Encenação pelo grupo Joana Guajuru

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