terça-feira, 27 de dezembro de 2011

[HISTÓRIA: MEMÓRIA: CEMITÉRIO: PALMEIRA DOS íNDIOS: ALAGOAS] Luiz Sávio de Almeida. Graciliano Ramos, o cemitério e a Maria Topada

Este artigo foi publicado em O Jornal, no mês de junho de 2008



            Sempre tive curiosidade sobre o cemitério de Palmeira, por conta dos famosos relatórios do Graciliano Ramos. Tenho dois tios enterrados no São Gonçalo (Joel e Júlio Calisto), mas enterro de parente não possibilita a busca dos réis do prefeito.  Ontem fui a Palmeira  para ver o cemitériodo Graciliano  e  fui na companhia do Ricardo Amorim, o bom doutor em meteorologia,  Fernando Rizzotto, o bom designer, Isaias, o bom motorista e Capelo, o bom fotógrafo. Estava na companhia de homens bons: anda com os bons e serás um deles. Nunca consegui ser.



Palmeira dos Índios

A Capela dos meus pais
 No caminho, a parada para ver o leito doParaíba nos lados do Escuro, carroças mergulhadas na água e animais morrendo sob o peso indomável da areia molhada. Na Viçosa, o local da casa do pai do Graciliano;  depois, marchar e ver um pouco do que teria sido Quebrangulo e rever a casa de meus pais, o local ondef uncionava o Atheneu Quebrangulense, invenção grecobrangulense do meu pai, o velho Manoel de Almeida, professor de nomeada na região.  No meio do caminho, a necessária passagem por Capela, o cumprimento às águas encachoeiradinhas do Paraíba, a demanda ao reino do Cajueiro, a parada no Escuro.

 O cemitério de Palmeira é emendado: o velho com o novo. A parte antiga é para cima e a parte para baixo é nova. Existe vestígio do antigo muro, espécie de estemunho: pequena enfieira de catacumbas. Ali, maravilhosos túmulos-igreja surgem do encantado da morte,  com três exemplares que a prefeitura deveria conservar.  Estamos no campo da arte e  arquitetura cemiterias, coisa que lembra um velho e falecido amigo,  o Clarival do Prado Valadares, especialista no assunto.

Conversa vai e vem, conheci a figura notável que é a coveira Neuza, simpática,  agradável no meio dos corredores de túmulo.  Veio dos lados de Pão de Açúcar tangida pela seca e agarrada ao marido.  Ele virou coveiro e foi querendo adoecer e terminou doente e findou morrendo. Ela foi ajudá-lo: uma coisinha aqui e outra ali, terminou cavando cova. Virou viúva e,com toda a justiça, ficou no lugar do marido ocupando a vaga existente.

O bom amigo Clarival
Nenhum os coveiros até aquele momento havia cumprimentado alguma assombração.  Como a maioria dos cemitérios, os mortos ficamem paz.  Neuza me disse que  a situação mais triste por ela presenciada foi a chegada de corpos despadaçados em desastre na Serra da Pia. Pedaços lançados na cova aberta, pessoas espatifadas. Neuza jamais esqueceu, mas, na realidade,  foi difícil lembrar-se de ter ocorrido uma situação triste, como se a convivência com a morte a fizesse separar-se da imensidão de dor que  passou por perto dos seus olhos.

            Mais depressa, lembrou-se de história engraçada dos mundos do São Gonçalo. MariaTopada entrou bêbeda,  foi andando e desviando das covas por aqui e por acolá. Viu um lugar bom, deitou,  dormiu. Os coveiros não viram Maria Topada, trancaram o portão e saíram por volta das cinco horas da tarde. Ela acordou pelas cinco da manhã e o portão trancado. Ficou na espera de um salvador e nisto veio o pãozeiro com o balaio na cabeça. Quando ele passou pelo portão, Maria Topada disse agoniada: "Me tire daqui!". O pãozeiro saiu correndo até o açude,  em um derrubar  balaio do pão até chegar e lá embaixo. O açude nada entendeu, mas o pãozeiro caiu e quebrou a padaria como diriam os antigos.

Um comentário:

  1. Oi Luiz! Vi que vc é um estudioso de Palmeira dos Indios. Queria muito o seu contato para poder trocar informaçoes do lugar para saber a historia da familia. Karen pequenataka@hotmail.com ou 11-98095-4124

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