terça-feira, 27 de dezembro de 2011

[HISTÓRIA: MEMÓRIA: GEOGRAFIA: IMAGINÁRIO: BANHOS: MACEIÓ] Luiz Sávio de Almeida. A hidrografia saudosa da bela Maceió




Esta matéria foi publicada em O Jornal em 2008




            Faz tempo que procuro lembrar de alguns lugares desta Maceió. Parece que se invultaram...  Sei que ainda existem, mas não sei por onde continuam a começar e a terminar, com novos nomes e novas paisagens;  mesmo sumidos, estão em mim, pegados como o inexorável da recordação. Por onde passava a velha estrada do contrabando? Por onde se entrava para Duas Bocas?  Não sei mais!  E, aliás, nunca soube direito que contrabando era esse... Talvez barriga branca, como chamavam o saco de açúcar sem marcação. E ainda martela a pergunta sobre as Duas Bocas... Seria um antigo engenho pertencente ao território da Comarca de Maceió?

O asfalto, as casas, as construções atropelam a lembrança; o novo embaraça o velho, o urbano se faz e refaz, significações acontecem e às vezes espantam pelo inusitado.

Tudo mudou, a rodagem mudou, a pista mudou, as entradas mudaram e eu mesmo mudei.

Há um senso grego nesta minha cisma: ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio, princípio da contradição: o ser não é, está sendo. É espantoso como o princípio está arraigado no prosaico da vida, na feitura do cotidiano. Eis que tudo mudou na Maceió que me viu nascer, em plena noite de guerra e no mais escuro e acautelador black-out.

Tenho para mim que as estradas deveriam seguir para os lados atuais do Benedito Bentes, pegar os rumos da Cachoeira do Meirim e talvez caminharem para os lados da Saúde. Elas seguiam em busca do litoral, como as águas do riacho da Caveira, vez em quando por mim freqüentado. Nada melhor do que a água fria de riacho em tempo quente: estimula e naquela era não havia poluição, com a gente se molhando no que era cristalino, vendo piabas fugidias a correrem em bando pelas beiradas do leito estreito.

Maceió possuía banhos de bom calibre. O Banho da Grota da Caveira me deu  namoros. Ali pelos lados da Serraria existiam lugares de primeira: o Banho da Grota da Palha que ficava pelos lados do Ecopark; o da Caveira nas bandas do Benedito II; o Poço Azul pelos lados do atual Jardim Petrópolis; o Banho do Rio do Meio anda absolutamente poluído nas vizinhanças do Bendito I.  Penso que persiste o Banho do Pratagy. Parece que havia, também, o Banho do Rio da Prata.

A saudade do banhos bateu quando estava numa conversa com dois amigos: o José Mário Barbosade Lima e o Isaías Batista de Lima conhecedores dos meandros do Tabuleiro, motoristas profissionais, acostumados a andarem de farol alto ou baixo pelo mundo e carregando cargas e cargas, com o primeiro jogando caçambas de areia de praia nas terras do Stela Maris e o segundo carregando material de construção na mesma área.

Chego a ver a água branca, a areia que parecia efetivamente lavada; nada daquela laminha chata. Nada de isopor e de isonor; a garrafa ficava na água que dava conta de esfriar. Nunca fui de cerveja; sempre achei que ninguém bebe cerveja: urina-se.Sempre gostei de uma cachaça e com caju sempre foi especial.  Hoje, chego perto apenas do caju. Cajarana também era gosto fino e combinava. Água, caju, cachaça e companhia eram coisas do bom e do melhor. Como diriam os antigos, eram da pontinha da orelha, tudo azul.

Andei por umbanho na Mata do Rolo e andei no Catolé. O Catolé era soberbo, bem tratado,  a piscina de pedra, a sensação do mergulho...Mas a Grota da Caveira e seu riacho eram o mais bom do mais melhor. O chato eraapenas a ladeira, mas somente na subida pois na descida todos os santos ajudavam.Ao subir era preciso ser cavalheiro e dar a mão e ao descer era o desembestoabraçado.  Moral da história: p'ra baixotodo santo, realmente, ajuda, mesmo que exista uma caveira e seja estranha anamorada.

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